terça-feira, 27 de agosto de 2013

Hex Hall, de Rachel Hawkins - Opinião

Hex Hall, de Rachel Hawkins

Um bilhete só de ida para um colégio interno perdido nos pântanos do Louisiana era talvez a última coisa que Sophie Mercer esperava receber pelos seus dezasseis anos. Mas Sophie não é uma adolescente igual às outras. Sophie é uma feiticeira e, tal como os outros prodigium, feiticeiros, fadas, lobisomens e vampiros, Sophie não pode frequentar uma escola normal. O que Sophie esperava ainda menos era ser companheira de quarto de Jenna, a única vampira da escola, e ver-se enredada numa trama para descobrir quem anda a assassinar os alunos da escola ao mesmo tempo que tem que lidar com os seus novos poderes, a descoberta da importância do seu Pai na hierarquia dos feiticeiros e a sua paixão pelo namorado da sua mais recente inimiga.

Tinha alguma curiosidade sobre este livro. Uma das coisas que me chamava a atenção era a capa. Infelizmente as novas edições mudaram de capa. A inicial era muito mais original e demonstrava a dualidade presente na história do livro (a capa inicial ilustra esta opinião).
Sophie é-nos apresentada de uma forma bastante interessante ao tentar protagonizar um feitiço de amor que não tem os resultados esperados. Aos poucos somos apresentados à história de uma rapariga que afinal é bruxa mas que deu demasiado nas vistas e por isso é mandada para a escola de Hecate Hall, o lugar para onde os seres prodigiosos que fazem asneira no mundo real são enviados de maneira a aprenderem a ser mais discretos.
Aqui o livro adquire os contornos claramente adolescentes dos livros da moda. O tema não foge a isso: uma escola de seres mutáveis, prodigiosos e cheios de poder.
A autora vai-nos apresentando as várias personagens, as histórias por trás de Hecate Hall, conhecido como Hex Hall, os campos, toda a história que envolve estes seres diferentes. A história dos membros do L’Occhio di Dio faz-nos lembrar sociedades secretas dos Illuminati.
Mas para Sophie nem tudo é um mar de rosas. Colegas começam a aparecer desfalecidas, sem gota de sangue no corpo, e Jenna, a sua única amiga, e vampira, é acusada dos acontecimentos. A verdade, contudo, é que algo muito mais poderoso e impensável assombra os campos de Hex Hall e com ele traz a verdadeira história da família de Sophie.
Uma história leve e fácil de ler já que é dirigida, maioritariamente, a adolescentes. Não acrescenta nada de novo mas consegue ser interessante e, em algumas partes, agarrar o leitor à história.

O meu pormenor favorito? Tornar Lord Byron professor na escola, mantendo a sua fama de vampiro, claro.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Encomendação das Almas, de João Aguiar - Opinião

A Encomendação das Almas, de João Aguiar

Num mundo rural em decomposição acelerada, minado pela poluição física e mental, pelos media e pelas arremetidas da "Aldeia Global", um homem de setenta anos e um adolescente aliam-se para construir um pequeno universo privado, fantástico, parado no tempo, onde vivem os velhos ritos e as superstições do passado.
Porém, esse universo, frágil e vulnerável, não poderá resistir durante muito tempo à sociedade hostil que o cerca. Então, é preciso encontrar uma saída...

História de uma amizade e de uma revolta, A Encomendação das Almas é também um retrato-caricatura do nosso tempo. Com ele, João Aguiar abre uma nova frente no seu trabalho de romancista e, renovando-se, confirma que é hoje um dos mais versáteis narradores portugueses.

Sempre gostei da escrita de João Aguiar. Gosto da maneira como ele transforma mitos e histórias em algo muito presente em nós. É um grande contador de histórias e é sem dúvida um autor a quem sabe sempre bem voltar.
Devido a outras actividades “extra-curriculares” necessitei de ler este livro que ainda não conhecia. Sempre ouvira falar da Encomendação das Almas mas, sinceramente, nunca me tinha debruçado sobre o livro e a sua temática. Foi uma surpresa.
A história é contada de uma maneira que considerei bastante “doce”. É-nos apresentado D. Gonçalo Nuno, um homem de idade, rico, dono de empresas, casas e parente afastado de uns condes. Nem o dinheiro de D. Gonçalo o “safou” das ideias da família: interná-lo num “asilo para velhos”.
Farto da vida que levava, dos afectos comprados com dinheiro e da indiferença da amantíssima esposa, D. Gonçalo decide partir de casa e refugiar-se na velha casa de família em Poiais da Santa Cruz.
É nesta pequena aldeia que conhecemos a segunda personagem, Zé da Pinta. O rapaz, quase sempre chamado de “o apoucadinho”, é considerado um pouco parvo, lento das ideias… idiota. No entanto, é uma personagem fascinante. Pouco fala mas, segundo o autor, os seus olhos dizem muito. São capazes de calar uma multidão.
Zé da Pinta foi recambiado pelos pais para casa de um tio em Poiais de Santa Cruz, por estes já não saberem o que fazer com o rapaz. O tio aceitou de bom grado a ajuda que Zé da Pinta podia dar na taberna e na mercearia e levou-o para casa. Os dias do rapaz eram passados entre a taberna, a mercearia, a cama da tia e as vezes que fugia para o campo para olhar o céu. Tinha um grande fascínio pelo céu, principalmente por tempestades.
É nesta aldeia isolada do mundo que as duas personagens se conhecem. D. Gonçalo fugido dos filhos, Zé da Pinta numa busca incessante de algo que nem ele próprio sabe. A diferença de idades, de estatuto social e de famílias não é importante nesta relação. Apenas as ideias, as dúvidas, a aceitação de um pelo outro.
E aos poucos vão entrando num mundo só dos dois. Um mundo onde existem mouras encantadas, lobisomens e almas que precisam de ser encaminhadas para o além. Com isso esquecem o mundo lá fora, as brigas familiares, o dinheiro, as injustiças. Mas o mundo lá fora não os quer esquecer. Os filhos de D. Gonçalo querem o que é deles por direito, ou o que assim acham. O tio de Zé da Pinta pondera mandar o rapaz para os pais depois de o mesmo dar nas vistas na aldeia. É necessário que a amizade destes dois “fugitivos do mundo” seja forte o suficiente para ultrapassar todos os problemas. E a resposta pode estar na biblioteca de D. Gonçalo. No livro que explica como nascem os Seculares das Nuvens.
Tal como referi acho a maneira como esta história é descrita muito doce. As ideias de Zé da Pinta fazem-no um sonhador. O crescente interesse de D. Gonçalo pelos mitos e pelo rapaz demonstram alguém que pode estar pela primeira vez a estabelecer uma relação de carinho com alguém. São duas pessoas que fugiram da aldeia global, dos shoppings e hipermercados. E que são perseguidos por eles e que encontram na sua amizade a única maneira de sobreviverem íntegros às suas ideias.
O fim não era o que esperava, confesso. Mas mesmo sendo algo impensável consegue mesmo assim ser doce, já que o mesmo representa a libertação das personagens e termina como um conto de fadas cheio de possibilidades e sonhos.

Recomendo o livro a quem gosta do autor, a quem não o conhece ou a todos os que se sintam curiosos com o título. Um livro a manter debaixo da “asa”.