A Terra de Ana, de Jostein
Gaarder
Uma história
sobre o clima e o meio ambiente
O que farias se
recebesses uma visão do futuro?
Depois de receber um
presente misterioso no seu décimo sexto aniversário, sempre que adormece, Ana é
transportada da sua cabana idílica nas montanhas da Noruega para o mundo
desolado da sua bisneta Nova, em 2082. As plantas e animais praticamente
desapareceram e Ana percebe que tem de fazer algo para evitar este futuro
apocalíptico. Com a ajuda do seu psiquiatra e, mais importante, de Nova, Ana
tentará enfrentar os problemas climáticos que assolam a Terra. Mas irá a tempo?
Tenho
dois escritores favoritos. Considero favoritos aqueles que sigo sempre o que
publicam e que de certa maneira a sua escrita mudou algo da minha vida: Marion
Zimmer Bradley e Jostein Gaarder.
A
Marion é fácil de explicar pelo seu mundo criativo e pela publicidade que tem.
Jostein Gaarder, no entanto, não é um escritor tão conhecido e badalado.
Conheci-o
através de O Mundo de Sofia, como
qualquer adolescente. Utilizei-o, inclusive, para estudar sociologia. No
entanto, o seu mundo e as suas ideias conquistaram-me com O Enigma e o Espelho.
Jostein
Gaarder tem um modo de escrita muito próprio e uma linha de pensamento em quase
todos os seus livros. Por exemplo, em O
Mundo de Sofia, a personagem principal Sofia lê sobre a vida de Hilde, que
não sabe que é uma simples personagem de livro, quando a própria Sofia é uma
personagem do livro que nós próprios lemos. Já em O Mistério de Natal, algo parecido acontece ao ler-se nos quadradinhos
do calendário uma história fantasiosa mas com contornos cada vez mais reais
misturados com a verdadeira história de uma menina que desapareceu de um centro
comercial. Podem ler aqui.
O
que eu quero dizer é que Jostein Gaarder, graças também ao seu percurso
relacionado com a filosofia, remete-nos sempre para mundos dentro de outros
mundos, realidades paralelas que nos fazem questionar muita coisa.
E
neste novo livro A Terra de Ana não
desilude. Ana é uma jovem prestes a fazer 16 anos. Uma jovem com uma preocupação
enorme pelo meio ambiente, pelos animais e pela forma como o ser humano está a
acabar com o ecossistema.
Mas
numa noite Ana tem um sonho estranhíssimo. Onde já não é Ana e sim Nova. O seu
quarto tem uma cor diferente, o mundo à volta é diferente. Já não há
praticamente nenhuns animais, os povos tiveram de ir para norte para fugir à
seca e aos desertos. O mundo está a morrer. Mas Ana, que nesse sonho é Nova, vê
outra pessoa no sonho, a bisavó de Nova. A velha senhora tem um anel igual ao
que Ana recebeu pelos seus 16 anos. A velha senhora chama-se Ana. A velha
senhora é ela…
Então
como pode Ana sonhar com duas pessoas e ser ao mesmo tempo as duas?
E,
mais importante, terá sido um simples sonho?
Numa
viagem pelo ecossistema, pela urgência de salvar o nosso planeta, de deixar um
legado aos nossos descendentes, acompanhamos Ana a tentar encontrar um sentido
para o que sonhou (ou viu) enquanto tenta salvar o mundo.
Confuso?
Talvez…
Com
este livro aprendi bastante sobre os ecossistemas. E é, sem dúvida, um alerta
para o que estamos a fazer ao nosso planeta. Estamos a gastar mais do que
conseguimos ter. E a continuar assim o mundo de Nova não será apenas um sonho e
sim uma realidade. Jostein Gaarder consegue arrebatar-nos nesta luta pelo
ambiente sem ser demasiado extremista. Afinal estamos a ser guiados pela
inocência de uma rapariga de 16 anos. Mas as perguntas que faz, os problemas
que levanta, não deixam de ser pertinentes. Não deixam de ser um alerta para as
nossas próprias acções.
E
a “magia” da escrita de Gaarder está lá ao criar um mundo paralelo e futurista,
onde Ana é a própria bisneta que tem uma nova oportunidade de salvar o planeta.
Será,
sem dúvida, um livro a que terei de voltar. Com mais calma e mais tempo. Com a
cabeça mais leve e livre.
Sem comentários:
Enviar um comentário