domingo, 3 de dezembro de 2017

O Labirinto dos Espíritos, de Carlos Ruiz Zafón - Opinião

O Labirinto dos Espíritos, de Carlos Ruiz Zafón 


Na Barcelona de fins dos anos de 1950, Daniel Sempere já não é aquele menino que descobriu um livro que havia de lhe mudar a vida entre os corredores do Cemitério dos Livros Esquecidos. O mistério da morte da mãe, Isabella, abriu-lhe um abismo na alma, do qual a mulher Bea e o fiel amigo Fermín tentam salvá-lo.
Quando Daniel acredita que está a um passo de resolver o enigma, uma conjura muito mais profunda e obscura do que jamais poderia imaginar planta a sua rede das entranhas do Regime. É quando aparece Alicia Gris, uma alma nascida das sombras da guerra, para os conduzir ao coração das trevas e revelar a história secreta da família… embora a um preço terrível.
O Labirinto dos Espíritos é uma história eletrizante de paixões, intrigas e aventuras. Através das suas páginas chegaremos ao grande final da saga iniciada com A Sombra do Vento, que alcança aqui toda a sua intensidade, desenhando uma grande homenagem ao mundo dos livros, à arte de narrar histórias e ao vínculo mágico entre a literatura e a vida. 

Conhecem aquela sensação de não se quererem separar de um livro? Que vão adiando a leitura das páginas finais para que nunca acabe? E que quando se acaba de o ler parece que acordámos de um sonho, olhamos em redor e parece que nem nos lembramos onde estamos ou como chegámos ali?
Já não sentia isso há muito tempo. Acabei O Labirinto dos Espíritos há uma semana, e embora soubesse o que queria escrever para publicar, não o conseguia fazer. Porque escrever era como se estivesse a aceitar que aquela história para mim acabou, que não iria voltar àquela Barcelona, que aquelas pessoas que me fizeram como parte da sua família desapareceram para sempre….
Com A Sombra do Vento aprendi a conhecer e a amar a família Sempere. A sonhar com a possibilidade vã de que um lugar como o Cemitério dos Livros Esquecidos realmente pudesse existir. Daniel Sempere tornou-se aquele primo com que crescemos e partilhamos as aventuras. Fermín como aquele tio maluco que toda a família tem e que é o primeiro a alinhar nas loucuras dos mais novos. E assim, aos poucos, fui entrando naquela família, absorvendo os seus laços afectivos, as suas vivências e tornando-as, um pouco, minhas.
As primeiras páginas de O Labirinto dos Espíritos são como retornar à família depois de uns tempos separados. Os primos estão lá, os tios, o avô. E todos contam as suas aventuras enquanto estivemos longe. Uma reunião de família. Que sabe sempre bem e que acalenta.
Confesso que não li os dois livros anteriores. Que embora mencionando as personagens não as aprofunda. E não fez falta para perceber este novo, e último, capítulo.
Daniel cresceu. Casou com a sua Bea e tem um menino a quem chamou de Julian, como o Carax. Mas Daniel já não é aquele menino de sorriso fácil e encantado com o mundo. A morte da mãe, Isabella, pesa-lhe cada vez mais. Alberga dentro de si o sentimento crescente de vingança.
Fermín casou com Bernarda. Continua a ser o ajudante da livraria. Mas guarda em si a tristeza de não ter conseguido cumprir a promessa que fez a um amigo, salvar-lhe a filha Alicia, que os bombardeios sobre Barcelona fizeram desaparecer.
Don Mauricio Valls, ministro, homem rico e famoso, teme pela sua segurança e da sua filha, Mercedes. As cartas ameaçadoras que recebe assustam-no cada vez mais. Até que desiste de fugir e segue até à “entrada do labirinto”.
Alicia Gris, uma mulher letal, treinada para matar, ludibriar e resolver casos impossíveis, guarda marcada na pele, e nos ossos, os bombardeios de Barcelona. Tirada das ruas por Leandro, que a forma e toma conta dela, é encarregada por este e pelos altos comissariados em descobrir o paradeiro do ministro Valls, desaparecido sem deixar rasto.
Como num novelo, numa teia, vamos conhecendo melhor cada uma destas personagens e a forma como, surpreendentemente, cada uma delas tem uma história que as liga a todos os outros. E quando pensamos que a história se está a desenrolar por um caminho previsível vem Carlos Zafón e tira-nos o tapete, deixando-nos novamente “à nora” em busca do coração deste livro.
E o final? Sem querer estragar o final, é como um relato de todas as nossas personagens, anos depois, por quem viveu dentro de toda esta história como mero observador. E traz com ele uma surpresa. Uma personagem desaparecida…
Confesso que fiquei apaixonada por este livro. Ainda agora enquanto escrevo apetece-me voltar ao início e ler tudo novamente para que não perca este encantamento. Para que não perca estas personagens. A narrativa está tão envolvente que nos prende sem sequer nos apercebermos. Quando damos conta já estamos no centro do labirinto.
Recomendo. Recomendo vivamente. Uma leitura lindíssima.

E depois digam o que acharam…