A
Caixa Em Forma de Coração, de Joe Hill
Judas Coyne colecciona o macabro: um
livro de receitas para canibais… uma corda usada num enforcamento… um filme
snuff. Uma lenda do death metal de meia-idade, o seu gosto pelo bizarro é tão
conhecido entre a sua legião de fãs como os excessos da sua juventude. Mas nada
do que ele possui é tão inverosímil ou tão medonho como a sua última
descoberta…
Um artigo à venda na Internet, uma
coisa tão estranha que Jude não consegue resistir a pegar na carteira. "Vendo"
o fantasma do meu padrasto a quem fizer a licitação mais alta. Por mil dólares,
Jude tornar-se-á o orgulhoso dono do fato de um homem morto que se diz estar
assombrado por um espírito inquieto. Ele não tem medo. Passara a vida a lidar com
fantasmas - o fantasma de um pai violento, o fantasma das amantes que
abandonara sem compaixão, o fantasma dos companheiros de banda que traíra. Que
importância teria mais um? Mas o que a transportadora entrega à sua porta numa
caixa preta em forma de coração não é um fantasma imaginário ou metafórico, não
é um benigno motivo de conversa. É real.
Já há algum
tempo que tinha bastante curiosidade sobre este livro. Não costumo ler livros
de terror (ou os que leio não os considero como tal) sendo por isso a minha
estreia. Estreia também com o autor.
Assim, foi
com muitas esperanças que peguei no livro. Confesso que no início foi-me difícil
agarrá-lo. A história não me estava a contagiar. E por isso demorou mais tempo
a ler.
Mas a dada
altura o livro dá-nos a volta. E a partir daí já não conseguimos parar.
Jude é uma
personagem bastante interessante. Não pelo seu estatuto de estrela mas pelo seu
passado, pelas curvas da vida, pelas suas opções.
E se o livro
pretende ser um livro de terror penso que falha um pouco. É sim um livro sobre
a natureza humana e como as pessoas reagem às adversidades da vida, aos
pequenos e grandes percalços que nos fazem repensar toda a existência.
Jude teve
uma infância difícil. E a música, a banda e as mulheres foram o seu escape.
Nunca se interessou pelo passado das mulheres que lhe passaram pelas mãos.
Nunca as quis perceber ou compreender. Não as considerava objectos mas também não
as considerava parte importante da sua vida. Daí que não as chamasse pelo nome
e sim pelo estado de onde provinham.
Perseguido
pelo fantasma, Jude tem de repensar toda a sua vida. Analisá-la, percebê-la,
dar importância às pessoas que se cruzaram com ele. Perceber o verdadeiro
significado de actos que na altura pareciam não ter importância.
E é graças
ao fantasma, à fuga, que Jude percorre a estrada da noite. Confesso que gostei
bastante da ideia da estrada da noite. Gostei do caminho percorrido, do
verdadeiro significado da estrada.
Posso dizer
que apreciei bastante a leitura. Foi uma boa experiência. Uma viagem à
escuridão do ser humano. Que me relembra que não se deve ter medo dos mortos e
sim dos vivos.
Aconselho
vivamente a leitura. E não se preocupem pois não é um livro capaz de vos fazer
medo, esconder debaixo dos lençóis na cama ou olhar duas vezes para o corredor
escuro. É apenas um livro que vos fará pensar.
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