Obrigada
Pelas Recordações, de Cecelia Ahern
Quando
Joyce Conway acorda no hospital depois de uma queda grave, sabe que a sua vida
nunca mais será a mesma. Não só perdeu o filho que carregava no ventre, como se
apercebe que o seu casamento chegou a um beco sem saída. Mas estas não são as
únicas consequências. Joyce simplesmente já não é a mesma pessoa. De repente
disserta sobre arte e arquitectura europeias, tem hábitos alimentares
completamente diferentes, fala sobre ruas parisienses onde nunca esteve… e
cruza-se amiúde com um homem a quem sente que está estranhamente ligada…
Antes de começar devo dizer que
gosto bastante desta autora. Apaixonei-me por ela com o P.S – Eu Amo-te e conquistou-me definitivamente com o Um Lugar Chamado Aqui. Por isso é sempre
um bom motivo regressar à sua escrita.
Este livro comprei-o numa daquelas
promoções que a Presença faz pelo facebook em que angariamos amigos inscritos e
escolhemos livros em que só pagamos os portes de envio. Foi uma oportunidade
excelente para ler algo mais da autora.
E não desiludiu…
Ao contrário dos dois livros já mencionados,
e até do Para Sempre, Talvez, este
livro é bastante mais leve e divertido. Capta-nos a atenção desde o primeiro
minuto pela forma leve como é escrito a duas vozes. Ou seja, tanto vemos o
mundo e os acontecimentos pela mão de Joyce como o vemos pela mão de Justin.
Joyce sofre uma queda grave que lhe
transforma a vida por completo. No hospital recebe uma dádiva de sangue. Sangue
doado por Justin, que tem pavor a agulhas mas não viu outra alternativa para
captar a atenção de Sarah. Confuso? Nada disso.
A partir daqui Joyce passa a ter
conhecimentos que nunca tivera. Passa a saber o ano de construção dos edifícios,
o estilo arquitectónico, o tipo de pintura do quadro que vem no jornal.
Curiosamente, exactamente a área de interesse de Justin, professor de
arquitectura e belas-artes, além de escritor de arte. Coincidência? Talvez…
Mas quando Joyce começa a ter
recordações de jantares em Paris, de uma criança loira a brincar no parque, de
uma mulher, de um casamento…. Ela percebe que aqueles flashes nada mais são que
recordações de outrem. E uma teoria começa a formar-se.
As personagens são fabulosas. O pai
de Joyce faz-nos apaixonar por ele às primeiras linhas. A forma como fuma às
escondidas e baixa a foto da falecida mulher para ela não ver… ou a maneira
como rege a sua vida pelo programa que dá na televisão e as segundas-feiras no
clube. Por vezes faz-nos rir com cenas como a do aeroporto ou a das filmagens
do seu programa favorito.
Outra personagem hilariante é
Doris, cunhada de Justin, que juntamente com Al, o marido, fazem um par engraçadíssimo.
Ou seja, um desfiar de personagens
engraçadas, de situações absurdas, hilariantes e ao mesmo tempo apaixonantes.
Sem dúvida um livro leve e que, no meio de tanta aventura, nos faz pensar em
algo.
Já várias vezes foi discutida, e
continua a ser amiúde, a questão de quanto de uma pessoa passa para a outra
quando os órgãos são transplantados. Terão os órgãos “memória” do corpo que
habitavam que possa influenciar o novo? Existem vários filmes romanceados em
que essa questão é levantada. E o sangue? O sangue que damos a outrem?
Mas, pronto… a minha função aqui é
dar-vos a minha opinião e não conjecturas sobre transfusões ou transplantações.
E o que vos posso dizer é que Obrigada
pelas Recordações é um excelente livro para as noites frias enroladas na
manta ou à lareira, ou até no parque envoltos pelas folhas amareladas do
Outono. Sempre uma boa opção.
Não li nada da autora, se calhar por preconceito. Os títulos fazem crer que são livros demasiado vazios, talvez (P.S. Amo-te é um título deplorável). Mas os preconceitos são apenas isso, ideias definidas a priori, que raramente sobrevivem quando confrontadas com a realidade.
ResponderEliminarPodes pôr esse livro de lado para me emprestares, na próxima vez que vieres a Guimarães?
Beijinhos
Ruthia
Sim. Penso que no fundo vais gostar da autora. É quase como a Sarah Addison Allen. O livro "Um Lugar Chamado Aqui" iria surpreender-te bastante. É um dos meus preferidos.
EliminarNão preferes que o mande por correio? Não sei quando poderei ir a Guimarães.
Beijo enorme