O Feiticeiro e a Sombra, de Ursula K. Le Guin
Numa terra longínqua chamada
Terramar vive o maior de todos os arquimagos. O seu nome é Gued, mas há muito
tempo atrás, ele era um jovem chamado Gavião, um ser estranho, irrequieto e
sedento de poder e sabedoria, que se tornou aprendiz de feiticeiro. Neste livro
conta-se a história da sua iniciação no mundo da magia e dos desafios que teve
que superar depois de ter profanado antigos segredos e libertado uma negra e
pérfida sombra sobre o mundo. Aprendeu a usar as palavras que libertavam poder
mágico, domou um dragão de tempos imemoriais e teve que atravessar perigos de
morte para manter o equilíbrio de Terramar. No meio de um suspense quase
insustentável, de encontros místicos, de amizades inquebrantáveis, de sábios
poderosos e de forças tenebrosas do reino das trevas e da morte, Gued não pode
vacilar, qualquer fraqueza sua fará perigar o equilíbrio que sustenta o mundo…
e a sombra maléfica que ele libertou, gélida e silenciosa, só está à espera
desse momento para devastar, com as suas asas negras, o mundo inteiro.
O Ciclo de
Terramar é uma admirável tetralogia, por muitos comparada a clássicos como
«Narnia» de C.S. Lewis ou «O Senhor dos Anéis» de J.R.R. Tolkien. Esta
magnífica saga, que se tornou numa obra de referência no vastíssimo percurso
literário desta escritora norte-americana, tem início com «O Feiticeiro e a
Sombra». O universo de Terramar, simultaneamente tão semelhante e diferente do
nosso, é, sem dúvida, uma das maiores criações da literatura fantástica, e o poder
misterioso e mágico que emana da narrativa, a sensibilidade que ilumina os
momentos de profunda sabedoria, a intensidade das personagens, o estilo
elegante e cristalino conquistam-nos de imediato e rapidamente nos arrebata
para os meandros dos seus reinos imaginários.
Este livro
surge nas minhas mãos por curiosidade pela autora. Já antes ouvira falar de
Ursula K. Le Guin e sempre ouvira falar bem. Falava-se da qualidade da sua
escrita, do mundo maravilhoso que criara, etc. Alguém dizia que O Ciclo de
Terramar seria uma mistura de Harry Potter com O Senhor dos Anéis.
Penso que é
mais… muito mais…
O Feiticeiro e a Sombra surge, em
Portugal, englobado na mesma colecção que o Harry Potter. Uma colecção que,
embora pareça de crianças, contém alguns livros que deveriam ser obrigatórios
para qualquer adulto.
Aqui a
autora cria um mundo próprio. Um mundo onde as palavras são mais que meras
palavras. São poder. E por isso poucos sabem o verdadeiro nome das coisas ou
das pessoas. Os rapazes que demonstrem o Poder são ensinados por Arquimagos numa
escola especial e eles próprios podem, um dia tornar-se Arquimagos e serem o
feiticeiro residente de alguma terra de Terramar.
E assim
conhecemos o Gavião que cedo demonstra o seu poder e que por ele é levado até a
Ilha de Roke onde entra na escola de Feiticeiros.
Até aqui
poderia ser uma banal história de feiticeiros para crianças. Mas é mais… muito
mais…
Movido pelo
orgulho Gavião, cujo nome verdadeiro é Gued, lança um feitiço que liberta uma
negra sombra. Esta sombra, desconhecida até pelos Arquimagos, quase mata Gued e
a ele fica presa. O Feiticeiro e a Sombra
é a demanda de Gued a fugir da sombra que libertou. E Gued foge. Conhece ilhas
e arquipélagos. Encontra amigos e desconhecidos. Encontra promessas da luz e
das trevas. Mas apenas com o conselho do velho feiticeiro Óguion, Gued percebe
que fugir não é solução.
“Se seguires em frente, se
continuares a fugir, para onde quer que corras encontrarás o perigo e o mal,
porque são eles que te conduzem, que escolhem o caminho que segues. Tens de ser
tu a escolher. Tens de buscar o que busca. Tens de caçar o caçador.”
Esta é a verdadeira moral que
Ursula K. Le Guin nos transmite. Que fugir dos problemas não é solução. Que é
enfrentando o que nos assusta, o que nos mete medo, o que nos persegue, só
assim conseguiremos chegar a bom porto. Com Gued percebemos que só não adianta
fugir ou, sequer, esperar que chegue até nós. Há que ir à luta, há que
enfrentar o que tememos e assim libertar-nos das nossas sombras.
Podem dizer que isto são spoilers.
Talvez. Mas aviso-vos já que esses mesmo spoilers são encontrados no livro.
Quando a autora nos vai dizendo que a essas personagens Gued voltará quando
visitar os Túmulos de Atuan.
Pode não ser um best seller. Mas é
um livro que nos faz pensar no caminho que tomamos, a maneira como enfrentamos
os problemas.
E continuam a achar que é um simples
livro de crianças?
Recomendo vivamente.
Joaninha, respeito o teu gosto por livros ligados à magia que perdura há tantos anos, enquanto essa minha fase foi muito temporária.
ResponderEliminarMas comparar as histórias de Narnia à saga de Tolkien é um bocadinho exagerado! Tolkien é Tolkien, tudo o resto, é um pálido reflexo e consequência da inspiração dele... mas essa é a minha opinião!
Beijinho
Aí está... a comparação não é feita por mim. O que está em itálico é a sinopse da editora.
EliminarNão posso opinar sobre algo que nunca li. Narnia passou-me ao lado, completamente... Ao contrário do Senhor dos Anéis. E não penso que seja agora que vou entrar nas leituras de Nárnia...