quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Feiticeiro e a Sombra - Opinião



O Feiticeiro e a Sombra, de Ursula K. Le Guin

Numa terra longínqua chamada Terramar vive o maior de todos os arquimagos. O seu nome é Gued, mas há muito tempo atrás, ele era um jovem chamado Gavião, um ser estranho, irrequieto e sedento de poder e sabedoria, que se tornou aprendiz de feiticeiro. Neste livro conta-se a história da sua iniciação no mundo da magia e dos desafios que teve que superar depois de ter profanado antigos segredos e libertado uma negra e pérfida sombra sobre o mundo. Aprendeu a usar as palavras que libertavam poder mágico, domou um dragão de tempos imemoriais e teve que atravessar perigos de morte para manter o equilíbrio de Terramar. No meio de um suspense quase insustentável, de encontros místicos, de amizades inquebrantáveis, de sábios poderosos e de forças tenebrosas do reino das trevas e da morte, Gued não pode vacilar, qualquer fraqueza sua fará perigar o equilíbrio que sustenta o mundo… e a sombra maléfica que ele libertou, gélida e silenciosa, só está à espera desse momento para devastar, com as suas asas negras, o mundo inteiro.
O Ciclo de Terramar é uma admirável tetralogia, por muitos comparada a clássicos como «Narnia» de C.S. Lewis ou «O Senhor dos Anéis» de J.R.R. Tolkien. Esta magnífica saga, que se tornou numa obra de referência no vastíssimo percurso literário desta escritora norte-americana, tem início com «O Feiticeiro e a Sombra». O universo de Terramar, simultaneamente tão semelhante e diferente do nosso, é, sem dúvida, uma das maiores criações da literatura fantástica, e o poder misterioso e mágico que emana da narrativa, a sensibilidade que ilumina os momentos de profunda sabedoria, a intensidade das personagens, o estilo elegante e cristalino conquistam-nos de imediato e rapidamente nos arrebata para os meandros dos seus reinos imaginários.

Este livro surge nas minhas mãos por curiosidade pela autora. Já antes ouvira falar de Ursula K. Le Guin e sempre ouvira falar bem. Falava-se da qualidade da sua escrita, do mundo maravilhoso que criara, etc. Alguém dizia que O Ciclo de Terramar seria uma mistura de Harry Potter com O Senhor dos Anéis.
Penso que é mais… muito mais…
O Feiticeiro e a Sombra surge, em Portugal, englobado na mesma colecção que o Harry Potter. Uma colecção que, embora pareça de crianças, contém alguns livros que deveriam ser obrigatórios para qualquer adulto.
Aqui a autora cria um mundo próprio. Um mundo onde as palavras são mais que meras palavras. São poder. E por isso poucos sabem o verdadeiro nome das coisas ou das pessoas. Os rapazes que demonstrem o Poder são ensinados por Arquimagos numa escola especial e eles próprios podem, um dia tornar-se Arquimagos e serem o feiticeiro residente de alguma terra de Terramar.
E assim conhecemos o Gavião que cedo demonstra o seu poder e que por ele é levado até a Ilha de Roke onde entra na escola de Feiticeiros.
Até aqui poderia ser uma banal história de feiticeiros para crianças. Mas é mais… muito mais…
Movido pelo orgulho Gavião, cujo nome verdadeiro é Gued, lança um feitiço que liberta uma negra sombra. Esta sombra, desconhecida até pelos Arquimagos, quase mata Gued e a ele fica presa. O Feiticeiro e a Sombra é a demanda de Gued a fugir da sombra que libertou. E Gued foge. Conhece ilhas e arquipélagos. Encontra amigos e desconhecidos. Encontra promessas da luz e das trevas. Mas apenas com o conselho do velho feiticeiro Óguion, Gued percebe que fugir não é solução.

“Se seguires em frente, se continuares a fugir, para onde quer que corras encontrarás o perigo e o mal, porque são eles que te conduzem, que escolhem o caminho que segues. Tens de ser tu a escolher. Tens de buscar o que busca. Tens de caçar o caçador.”

Esta é a verdadeira moral que Ursula K. Le Guin nos transmite. Que fugir dos problemas não é solução. Que é enfrentando o que nos assusta, o que nos mete medo, o que nos persegue, só assim conseguiremos chegar a bom porto. Com Gued percebemos que só não adianta fugir ou, sequer, esperar que chegue até nós. Há que ir à luta, há que enfrentar o que tememos e assim libertar-nos das nossas sombras.
Podem dizer que isto são spoilers. Talvez. Mas aviso-vos já que esses mesmo spoilers são encontrados no livro. Quando a autora nos vai dizendo que a essas personagens Gued voltará quando visitar os Túmulos de Atuan.
Pode não ser um best seller. Mas é um livro que nos faz pensar no caminho que tomamos, a maneira como enfrentamos os problemas.
E continuam a achar que é um simples livro de crianças?
Recomendo vivamente.

2 comentários:

  1. Joaninha, respeito o teu gosto por livros ligados à magia que perdura há tantos anos, enquanto essa minha fase foi muito temporária.

    Mas comparar as histórias de Narnia à saga de Tolkien é um bocadinho exagerado! Tolkien é Tolkien, tudo o resto, é um pálido reflexo e consequência da inspiração dele... mas essa é a minha opinião!
    Beijinho

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    1. Aí está... a comparação não é feita por mim. O que está em itálico é a sinopse da editora.
      Não posso opinar sobre algo que nunca li. Narnia passou-me ao lado, completamente... Ao contrário do Senhor dos Anéis. E não penso que seja agora que vou entrar nas leituras de Nárnia...

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