quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Margarita e o Mestre, de Mikhail Bulgakov - Opinião

Margarita e o Mestre, de Mikhail Bulgakov

Margarita e o Mestre publicado pela primeira vez na revista Moskva, mais de vinte anos após a morte do autor — a primeira parte em Novembro de 1966 e a segunda em Janeiro do ano seguinte. Mikhail Bulgákov trabalhara nesta sua obra durante mais de dez anos, tendo escrito diferentes versões. A última foi ditada à sua companheira Elena Bulgákova, quando o autor se encontrava já muito doente, em Março de 1940. O romance é composto por duas narrativas ligadas entre si — uma passa-se na Moscovo dos anos 30 e a outra na Jerusalém antiga. As personagens são estranhas, complexas, ambíguas e algumas delas sobrenaturais, como Woland. As principais são o Mestre e a sua amante, Margarita. Como afirma Samuel Thomas, «o romance pulsa de maliciosa energia e invenção. Por vezes uma dura sátira da vida soviética, uma alegoria religiosa da dimensão do Fausto, de Goethe, e uma indomável fantasia burlesca, é uma obra de riso e terror, de liberdade e servidão — um romance que explode as verdades oficiais com a força de um carnaval descontrolado». A primeira edição desta tradução foi publicada em 1991, estando há muito esgotada.

Margarita e o Mestre surge nas minhas mãos com uma colecção editada pelo jornal Público há quase 10 anos, a colecção Mil Folhas. Até então Bulgakov era um estranho para mim. Um estranho do qual nunca tinha ouvido falar…
Quando o li a primeira vez, nessa altura, ficou logo como um dos meus livros preferidos. Esta não é, portanto, a minha primeira impressão do livro. No entanto, na altura nada escrevi sobre o mesmo e com a crescente vontade de voltar ao seu mundo juntou-se o útil ao agradável.
Bulgakov transporta-nos para um mundo quase possível de equiparar a Murakami e o seu Kafka à Beira-Mar. Porquê? Pela história quase surreal à qual nos transporta.
Dois escritores russos encontram-se no Largo do Patriarca onde se entregam a uma discussão sobre a existência de Jesus Cristo. A eles junta-se um estrangeiro de nome Woland, que nenhum conhece, que garante a verdade da existência de Jesus. Como? Ele esteve lá quando Cristo foi crucificado.
A partir daqui sai uma discussão sobre o bem e o mal, sobre Deus e o Diabo, com a forte convicção dos dois escritores de que tais figuras não existem contrariada prontamente pelo estrangeiro.
Até aqui tudo normal, não fossem os acontecimentos seguintes. Com a morte de Berlioz, um dos escritores, em poucos minutos, Ivan, o outro escritor, crê que a culpa é do estrangeiro que a previra e dos seus “capangas” onde se inclui um grande gato preto que fala e anda nas patas traseiras. Começa uma perseguição de Ivan a Woland que acaba com o poeta num hospício onde conhece um paciente que se intitula Mestre.
Depressa descobrimos que Woland tinha razão ao assegurar a existência das duas entidades. Isto porque ele é o próprio Satã acabado de chegar a Moscovo para avaliar como são as pessoas e a cidade nesta data mais moderna. Woland não vai apenas mexer com a vida de Ivan. Ao instalar-se na antiga casa de Berlioz coloca a nu todos os podres de pessoas que o rodeavam.
Enquanto lemos a narrativa de Woland e Moscovo somos surpreendidos por capítulos que descrevem a crucificação de Jesus Cristo no tempo de Pôncio Pilatos. Quando “ouvimos” o Mestre contar a Ivan a sua história percebemos que esses capítulos mais não são que o manuscrito do Mestre e a causa da sua estadia no hospício. Com ele descobrimos ainda a sua história de amor com Margarita.
Podemos dividir o livro em duas partes. Uma primeira com a aparição de Woland, as mortes, os desaparecimentos, a loucura instalada em Moscovo com coisas surreais a acontecer em todo o lado. E uma segunda parte em que conhecemos a história do Mestre e de Margarita, que afinal dão o título ao livro, e o papel de Margarita na festa de Woland.
Sim, porque Woland, o Satã, dá todos os anos um baile na Terra. E todos os bailes precisam de uma rainha. Por isso em cada local, todos os anos, é escolhida uma “rainha” diferente para ser a anfitriã. Aqui temos uma referência à rainha Margot, sendo que todas as anfitriãs têm de possuir o nome de Margarita (consoante a tradução dada em cada país).
Margarita aceita participar no baile tendo e vista a sua reunião com o Mestre. E assim temos um segundo capítulo em que nos é descrito o baile, a versão de Margarita da sua relação com o Mestre, e, por fim, a saída de Woland de Moscovo.
Confusos?
Parece, mas no fundo não é. A história leva-nos da total descrença à gargalhada. Conseguimos perfeitamente distinguir as críticas sociais que Bulgakov tenta passar na história. É, sem dúvida, um retrato da Moscovo da altura. Um retrato confuso… mas não deixa de o ser. Coloca em causa as ideologias da altura, a proliferação de pseudo-escritores que nada trazem de novo, a cultura e as crenças de um povo.
A leitura é feita muito facilmente porque a escrita é fluída. E a história “apanha-nos” de forma tão rápida que é impossível deixá-lo. O contra é toda aquela parafernália de nomes russos que com diminutivos ainda fica mais complicado de perceber quem é quem. É perfeitamente normal ter de, por uma ou outra vez, voltar atrás para perceber a quem pertence aquela alcunha ou diminutivo.
Haveria muito mais a dizer sobre o livro e a sua história. Mas alongar-me faria contar passagens que seriam spoilers e estragar a surpresa de quem o lê. Garanto-vos no entanto que é um livro muito divertido e que vale sem dúvida a pena.

Deixo-vos apenas esta passagem. Por muitas vezes que o leia é sempre uma das minhas partes preferidas:

"Tendo perdido um dos perseguidos, Ivan concentrou a sua atenção no gato e viu aquele estranho animal aproximar-se do estribo do eléctrico A, que estava na paragem, empurrar insolentemente uma mulher (...) agarrar-se ao varão e até tentar meter na mão da condutora (...) uma moeda de dez copeques.
(...)

Nem a condutora, nem os passageiros pareciam surpreendidos com o essencial: não o facto de o gato subir para o eléctrico, o que seria apenas meia desgraça, mas o facto de ele querer pagar o bilhete."

domingo, 12 de janeiro de 2014

Refúgio, de Nora Roberts - Opinião

Refúgio, de Nora Roberts

Jo Ellen, fotógrafa de renome, pensava ter fugido à casa chamada Refúgio há muito tempo. Ali passara os seus anos mais tristes, depois do desaparecimento inesperado da mãe.
Contudo, a casa que encima as praias exóticas de uma ilha ao largo da Geórgia continua a assombrá-la. E agora, mais assustadoras ainda são as fotografias que alguém lhe começa a enviar: primeiros planos sinistros e puros, culminando no retracto mais chocante de todos, o da mãe… nua, bela e morta. Jo terá de regressar à ilha da sua infância e à família que procurou esquecer. Com a ajuda de um homem, descobrirá toda a verdade sobre o seu trágico passado. Mas o seu Refúgio pode revelar-se o local mais perigoso de todos…

De vez em quando sabe bem voltar a Nora Roberts. Uma leitura mais leve, que não nos obriga a pensar, que nos abstrai dos problemas que nos rodeiam e que, quase sempre, se torna agradável.
Desta vez a autora leva-nos a conhecer Jo Ellen, uma fotógrafa profissional que tenta superar o abandono da mãe no passado, que foge de casa para construir uma vida autónoma sem precisar da ajuda de ninguém. Mas depressa Jo percebe que, como dizia Hemingway, “nenhum homem é uma ilha”. Depressa percebe que o passado não pode ser simplesmente apagado e que é a companhia dos outros que nos permite superar os obstáculos e viver.
Quando começa a receber fotografias suas, demasiado pessoais, Jo percebe que algo está errado. Mas não imaginava que no meio delas surgiria uma foto da mãe. A mãe que os abandonara há 20 anos, sem nunca mais dar notícias, aparecia agora na foto nua e morta. O que seria real naquela foto que desaparece misteriosamente?
Tudo isto leva Jo a voltar às origens. E as suas origens estão em Desejo, uma ilha quase privada onde está a bela casa de família conhecida como Refúgio. 20 anos depois Refúgio é um hotel familiar dirigido pelas hábeis mãos da prima Kate, e dos irmãos de Jo, Brian e Lexy.
Mas o passado desembarca com ela na ilha e quer confrontá-los a todos com o que aconteceu há 20 anos…
A história está bastante bem construída, como é normal na autora. As descrições de Refúgio e da ilha são fantásticas. Apetece-nos ir lá passar umas férias. As personagens estão bem delineadas e são interessantes.
Como sempre, nos livros de Nora Roberts, há o romance. Neste caso três casais, os três irmãos, que enfrentam os seus medos de abandono. E depois há o policial. A ânsia de descobrir o assassino, o perseguidor de Jo. No entanto achei-o bastante fácil de identificar.
O ponto fraco? O fim. Demasiado rápido e sem a emoção que se esperava.

Um livro para quem gosta da autora, para quem quer um livro fácil de ler e que, apesar do tamanho, é bastante rápido.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Morgana, de Michel Rio - Opinião

Morgana, de Michel Rio

"Morgana é o caos, diz Artur a Merlim. Um caos onde toda a finalidade falece, onde o construtor meticuloso e obstinado, que recebeu por herança este cuidado imperioso da finalidade, se perde com deleite. Morgana é a obsessão dos sentidos que mata no pensamento a obsessão do projecto. É o presente absoluto que rói o frágil futuro. O se espírito é uma devastação que quereria odiar, adorando cada parcela da sua carne, o menor esboço do seu movimento que é como uma dança infinita de graça e de morte. E, contudo, vejo bem que a sua carne não é mais do que a matéria macia e singular do seu espírito, que os dois são uma uma e a mesma coisa e que a sedução deste invólucro a que nada na natureza pode comparar-se não é mais que o intérprete harmonioso duma sedução mil vezes mais poderosa, nascida do fausto calculado duma inteligência sublime e pervertida."

Morgana é o segundo livro de uma trilogia iniciada por Merlim (opinião aqui).
Michel Rio com esta trilogia mostra-nos a visão da mesma história aos olhos de cada personagem: Merlim, Morgana e Artur.
Esperava que Morgana fosse contada na primeira pessoa, um pouco como Merlim. Mas embora não o seja consegue transmitir-nos a sua visão de Merlim, Artur, Camelot, Avalon,..
Contado desde o casamento da mãe, Igerne, com Uter, o dia em que conhece Merlim e o reconhece como um pai espiritual, vemos a forma como cresce e aprende com Merlim a sabedoria e a lei das coisas.
Desde cedo Morgana se revolta com o mundo que a rodeia visto que não compreende um mundo perecível, um mundo onde o corpo humano descai para a morte, um mundo que será infindável e superior a ela e, até, a Merlim e as suas ideias.
Com Merlim ficámos a conhecer uma Morgana que envolve caos e dor, e que a tudo o custo tenta destruir Artur, Camelot e as ideias de Merlim.
Mas neste livro descobrimos uma Morgana que age com medo de um caos que fica depois da sua morte, que age pela sabedoria e pela prova das suas ideias. Uma Morgana que por muito que lute contra acaba por agir por amor… o sentimento que mais renega.
Morgana é-nos apresentada como uma beleza capaz de derreter qualquer coração, com uns olhos verdes que enche de desejo qualquer um que a veja. O que irá acontecer a Artur que inicia com a meia-irmã uma relação de incesto que trará o nascimento de Mordred.
Mas para nós, leitores, Morgana é uma inteligência rara. As suas discussões de filosofia, aos 12 anos, com Merlim enchem páginas do livro. Discute átomos, heliocentrismo, Aristóteles e corpos celestes.
E mesmo com todos os acontecimentos em volta, com todo o caos provocado, simplesmente pelo seu medo de amar, não conseguimos ter raiva da personagem. Apenas pena. Pena de alguém que só nos últimos dias de vida percebeu o que era o amor e que não devia ter lutado contra ele.
Um livro muito bom. Mesmo indo contra as ideias de Avalon que aprendemos com Marion Zimmer Bradley. Um ponto de vista que vale a pena ver. E embora seja de uma leitura mais difícil que Merlim, acaba por ser mais interessante e recompensados. Ou talvez seja eu que pense assim já que Morgana foi sempre a minha personagem preferida.
Chegaremos a Artur em breve para terminar esta trilogia de Michel Rio.
Termino com as últimas frases do livro que achei muito bonitas:

“A ilha fortaleza fechada, escrínio poderosos cingindo o mausoléu onde repousavam para sempre Artur e Morgana, lado a lado, enfim reunidos na paz após uma longa paixão de amor e de ódio, era ela mesma um túmulo colossal onde estavam enterrados Logres, a Távola Redonda e ele próprio, Merlim, mortos aqui e agora, por obra da história e das coisas, antes de renascer algures e para sempre, pela palavra e pela lenda.”


E assim renasceram…

domingo, 5 de janeiro de 2014

Claridade, de Alyson Noël - Opinião

Claridade, de Alyson Noël

Bem-vindos ao Aqui & Agora
Riley Bloom deixou a irmã, Ever, no mundo dos vivos e atravessou a ponte que conduz à vida depois da morte - um local chamado Aqui, onde o tempo é sempre Agora.
Acompanhada pelo seu cão, Botão de Ouro, Riley juntou-se aos seus pais e está prestes a instalar-se numa morte agradável e descontraída quando a chamam para comparecer perante o Conselho. Aí, revelam-lhe um segredo - a vida depois da morte não é só uma eternidade de boa vida e Riley tem de trabalhar. Confiam-lhe, nessa altura, uma tarefa, a de ser uma Apanhadora de Almas, e um professor, Bodhi, um rapaz estranho que ela não consegue compreender bem.

Este livro chegou-me às mãos graças ao Bookcrossing. Por estar de férias forçadas em casa acabo por ter mais tempo para ler e, como tal, este livro foi devorado em pouco mais de um dia.
O termo devorado não se aplica aqui pela qualidade do livro, convenhamos, mas simplesmente pelo facto de não haver muito mais para fazer.
Claridade é um livro simples. Um spin-off da Saga dos Imortais da mesma autora. Já tinha lido Eternidade (podem reler a opinião aqui), a história de Ever, onde a irmã Riley é mencionada umas quantas vezes. Agora vemos a versão de Riley, que não sobreviveu ao acidente.
Riley faleceu naquele acidente que vitimou ainda os pais e Botão de Ouro, a cadela. Mas ao contrário dos pais a jovem de 12 anos teve mais dificuldade em atravessar a ponte e manteve-se presa mais tempo na névoa que separa os dois mundos, atenta aos passos da irmã Ever.
Quando finalmente atravessa a ponte a personagem relata-nos como é o outro mundo e conta-nos o primeiro dia de escola, sim… também têm escola, onde repara no estranho brilho que alguns alunos emanam. E onde conhece Bodhi…
Depois de ser chamada ao conselho, onde a sua vida é analisada, Riley é encarregue de uma missão. Para encontrar o seu caminho será uma caçadora de almas e é-lhe confiada a primeira tarefa em Inglaterra, num velho castelo, onde terá de encontrar o famoso Rapaz Luminoso e convencê-lo a atravessar a ponte. Para isso contará com um guia/professor que, para sua surpresa, se revela Bodhi, o rapaz a quem tantas vezes chamou parvalhão.
O livro é bastante pequeno e fácil de ler. Não é uma obra prima, mas já a série Os Imortais não o é. É apenas umas páginas que entretêm umas horas sem pensar muito. A história, ou a premissa da história, até está interessante. Mas depois “esparrama-se” nas opiniões de uma miúda de 12 anos, numa visão infantil do mundo, e numa linguagem também algo infantil.
Como digo, é um livro interessante quando não temos mais nada para ler e queremos não pensar nos problemas durante algumas horas.

A surpresa? Pasmem… tem continuação…. Não sei bem como, mas tem. Aliás, as primeiras páginas da nova aventura de Riley aparecem logo no fim do livro numa tentativa de entusiasmar o leitor. Comigo não foi muito bem sucedido. Mas nunca se sabe.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón - Opinião

A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón
Bis – Leya

Numa manhã de 1945, um rapaz é conduzido pelo pai a um lugar misterioso oculto no coração da cidade velha: o Cemitério dos Livros Esquecidos. Aí, Daniel Sempere encontra um livro maldito, que muda o rumo da sua vida e o arrasta para um labirinto de intrigas e segredos enterrados na alma obscura de Barcelona.
Juntando as técnicas do relato de intriga e suspense, o romance histórico e a comédia de costumes, A Sombra do Vento é sobretudo uma história trágica de amor, cujo eco se projecta através do tempo. Com uma grande força narrativa, o autor entrelaça tramas e enigmas ao modo de bonecas russas num inesquecível relato sobre os segredos do coração e o feitiço dos livros, numa intriga que se mantém até à última página.
A Sombra do Vento é um mistério literário passado na Barcelona da primeira metade do século XX, desde os últimos esplendores do Modernismo até às trevas do pós-guerra. Um inesquecível relato sobre os segredos do coração e o feitiço dos livros num crescendo de suspense, que se mantém até à última página.

Este livro foi uma prenda de aniversário da minha irmã (podem encontra-la no Berço do Mundo). Mas com uma pilha de livros para ler, mais trabalho, mais actividades extra-curriculares, estava difícil de arranjar tempo para ele. Mesmo com ela sempre a reiterar que o livro era muito bom e que estava ansiosa para saber o que eu acharia dele.
A Sombra do Vento foi o último livro de 2013. Acabado de ler no dia 30 de Dezembro acabou o ano em beleza. O que pedir mais do que um livro que fechasse o ano com chave de ouro?
O livro foi mais que uma boa surpresa. Foi uma descoberta apaixonante. Um fio que nos envolve em cada palavra, em cada capítulo, em cada personagem que conhecemos. Um fio que nunca mais nos larga. Nem mesmo quando chegamos ao fim.
Começamos a narrativa a conhecer Daniel, uma criança ainda, que é levada pelo pai a um lugar fascinante que, de certeza, todos gostaríamos de conhecer: o Cemitério dos Livros Esquecidos. Aí Daniel escolhe um livro (ou é escolhido por ele) que o vai transportar numa aventura fantástica por Barcelona, pela literatura, pela sua própria vida e condição humana.
Confesso que o autor me fez lembrar muito o meu autor preferido, Jostein Gaarder. Embora com uma escrita diferente, com palavras e histórias diferentes, fez-me lembrar O Mundo de Sofia. A forma como Daniel lia o livro de Carax, e ao mesmo tempo iam surgindo as histórias das personagens que o acompanhavam, a vida delas. Como um livro dentro de outro, dentro de outro e dentro de outro. Tal como Gaarder quando nos apresenta Sofia, personagem que Hilde lê, que por sua vez é uma personagem que nós lemos. Confusos? Pensem nas famosas bonecas russas, as Matrioshkas. Dentro de cada uma encontramos uma nova personagem, uma nova história.
As personagens são tão ricas que é difícil escolher uma. São todas tão fascinantes, com histórias de vida tão ricas que é difícil dizer que apenas uma ou outra é a principal.
E o cenário? Uma Barcelona em guerra e pós guerra. Retratos de quem sofreu a tortura e a perseguição, de quem perdeu familiares ou os viu entrar para a prisão sem nunca mais ter notícias deles.
O que posso dizer mais? Que recomendo a leitura a toda a gente, que é um livro 5 estrelas que vale a pena ler. A linguagem é acessível e a narrativa fluída.

É sem dúvida um autor a manter debaixo de olho e um livro para ir relendo de quando em quando.