quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O Miniaturista, de Jessie Burton - Opinião

O Miniaturista, de Jessie Burton





Num dia de outono de 1686, a jovem Nella Oortman, recém-casada com um próspero mercador de Amesterdão, Johannes Brandt, chega à cidade na expetativa da vida esplendorosa que este casamento auspicioso lhe promete. Mas, entre a amabilidade distante do marido e a presença repressiva da cunhada, Nella sente-se sufocar na sua nova existência.
Até que um dia, Johannes lhe oferece uma réplica perfeita, em miniatura, da casa onde vivem. Nella encomenda então a um miniaturista algumas peças para ornamentar a casa. Mas algo de surpreendente acontece: novas encomendas de miniaturas continuam a chegar sem terem sido solicitadas, como presságios silenciosos de futuras tragédias.
Um romance de estreia magnífico, sobre amor e traição, que evoca com grande sensualidade a atmosfera da Amesterdão do século XVII.

Sentei-me no meio de uma pequena biblioteca privada, que mesmo sendo pequena consegue ser muito recheada, com a liberdade de escolher o que quisesse ler. Ao canto este livrinho chamou-me a atenção. O dono da bela biblioteca já o tinha começado a ler mas deu-me o privilégio de o trazer comigo emprestado e ser eu a primeira a ler.
E que previlégio… e que boa escolha!
Não tinha ouvido falar deste livro. Acho que andei um pouco afastada do mundo literário. E descubro então que muitos falavam dele. Quase sempre bem.
E no entanto foi despojada de qualquer expectativa que o abri e comecei a ler.
Logo ao início um capítulo estranho. Como se aterrássemos no meio de uma história onde nada nos é explicado. Assim que termina percebemos que começámos pelo fim. A história só agora vai começar.
Somos apresentados a Nella com a sua chegada a casa do marido. O marido que não está em casa para a receber. O marido que apenas viu duas vezes mas que ouviu dizer que é muito rico. Quem a recebe são os criados e a cunhada.
Tudo personalidades estranhas a Nella. Marin, a cunhada, é um ser complicado, devoto à religião. É ela quem gere a casa nas ausências de Johannes. Cornélia é uma criada que por vezes esquece as reservas e esconde um passado de necessidade. E Otto. O secretário, e criado, negro de Johannes, que tanto dá que falar em Amesterdão por incutir medo e curiosidade em toda a população.
São estas as personagens principais que nos acompanharão ao longo da história. História essa que não se faz sem a famosa casa de bonecas que Johannes oferece à sua jovem esposa, como prenda de casamento e compensação pelas suas ausências.
Nella depressa pede a um miniaturista que lhe faça algumas peças. Mas não são só as peças que pediu que o miniaturista manda entregar. E é a partir dessas peças que Nella recebe, sem pedir, que começa uma estranha intriga.
A identidade do miniaturista intriga Nella. Mas não só. As suas peças trazem com elas mensagens, presságios, estranhos acontecimentos. Reviravoltas na estranha vida destas personagens. Reviravoltas que nem nós, os leitores, esperamos.
O Miniaturista, torna-se assim um livro fascinante. Fascinante pela história que conta, pelo ambiente que transmite, pelo que ensina de história sobre Amesterdão do século XVII. Fascinante pela intriga, pelas personagens tão fáceis de aprender a gostar, pelas reviravoltas impressionantes.
Acreditem que o final não foi mesmo nada aquilo que esperava. Conseguiu sempre surpreender. Pela positiva.
É por isso um livro que recomendo. Muito fácil de ler, de compreender, e quase viciante.

Aconselho, sem dúvidas!

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Como da Primeira Vez, de Mike Gayle - Opinião

Como da Primeira Vez, de Mike Gayle

Jim e Allison namoraram durante uma década. Conheceram-se na associação de estudantes e a partir desse dia partilharam uma vida a dois intensa e apaixonada, embora conflituosa e complexa. Apesar de gostarem muito um do outro, não foi o suficiente para manterem a relação e decidiram separar-se, dividindo todos os bens, incluindo o gato. Afastados fisicamente, iniciaram outras relações amorosas com o objectivo de viverem uma nova etapa, diferente da anterior. Mas o destino volta a aproximá-los e três anos mais tarde, encontram-se acidentalmente. A memória das recordações passadas irrompe invadindo o presente e inquieta Jim e Allison. Por que razão o relacionamento deles não deu certo? Será que ainda vão a tempo de o recuperar? Uma comédia romântica ao nível da melhor ficção assinada por um escritor bestseller.

Ando com alguma dificuldade em ler. Uma fase, acho. E após acabar um livro da nova moda erótica apetecia-me algo mais calmo, mais prático, mais jovial… enfim… diferente. E então lembrei-me deste livrinho que já tinha em casa há quase dois anos e que ainda não tinha tido a honra de sair da estante.
Não é a primeira vez que leio algo de Mike Gayle. Anteriormente li Ao Virar dos Trinta, que curiosamente li ao virar dos 30, e que me deixou bem impressionada com a jovialidade e facilidade de lermos e gostarmos.
Assim não foi difícil dar a oportunidade novamente ao autor quando o que eu precisava era mesmo de algo diferente.
A história é contada a duas vozes, a de Jim e Allison, como se de um diário se tratasse. Ou seja, com data e hora. Por vezes a versão de um ou outro dista apenas uns minutos. Começa no tempo presente, com os dois personagens já divorciados, cada um com uma vida diferente, com pessoas diferentes, mas que entram em contacto pelo amor comum a Disco, a gata. A partir daqui estão lançados os dados para contarem a sua história remontando aos tempos da faculdade em que Jim e Allison se conhecem. Uma tentativa frustrada de Jim engatar uma miúda gira e que Allison não achou piadinha nenhuma. O tempo foi passando e reencontram-se um ano depois e a partir daqui não conseguem negar a atracção que têm um pelo outro.
Os anos foram passando, a vida continuou. Acabou a faculdade vieram os empregos, depois a casa, depois o casamento. Mas a dada altura algo falha. O que nos leva ao presente, e ao contacto entre os dois.
A história é muito gira. Faz-nos rir em alguns momentos. E como sabemos desde o inicio que se vão divorciar faz-nos sempre torcer para que haja uma reviravolta e fiquem juntos novamente. É fácil de ler, consegue agarrar-nos de uma forma suave e calma.
As personagens são construídas e crescem de uma forma interessante ao longo da história. Há até alturas em que nos conseguimos identificar com algumas situações, o que acaba por tornar a leitura mais prazerosa.

Um livro que aconselho para levar para a praia agora. Ou para o bosque num piquenique. 

domingo, 14 de junho de 2015

Viciada em Ti, de Laurelin Paige - Opinião

Viciada em Ti, de Laurelin Paige

Perseguições e obsessão são uma coisa do passado para Alayna. Agora que acabou de receber o seu MBA, vê o futuro com outros olhos e está cheia de planos. Um deles é a sua ascensão profissional no clube noturno onde trabalha, o outro é manter-se afastada de qualquer homem que desencadeie nela a sua compulsão amorosa. Mas Alayna não estava à espera de conhecer um homem como Hudson Pierce, o novo dono do clube. Inteligente, bonito, rico, é justamente o tipo de homem de quem tem de se manter afastada. Só que ele quer Alayna na sua cama, e não faz segredo disso. 
Arrastada para o seu universo, em parte por uma proposta de trabalho irrecusável, não consegue resistir ao seu magnetismo. Quando descobre que também Hudson tem uma história sombria, compreende tarde demais que se apaixonou pelo pior homem com quem se poderia envolver. Ou talvez o passado de cada um deles lhes dê oportunidade de curarem as suas feridas e encontrarem o amor que falta nas suas vidas…

O blog tem andado um pouco parado. Infelizmente porque ando a não ler quase nada. Sabem aquelas alturas em que parece que nada nos convence, nada nos agarra? É isso mesmo que se anda a passar por estes lados. Além disso o stress do dia a dia prejudica ainda mais a leitura.
Este livro foi um empréstimo a ver se “a coisa” arrebitava. Propus-me, pelo menos, a tentar ler até ao fim. 
Logo ao início percebi que existem bastantes semelhanças deste livro com os do famoso Sr. Grey. Mas não serão todos estes livros que explodiram atrás da fama do Sr. Grey mais do mesmo? Pelo menos é o que penso…
É mais um livro pseudo-erótico-pornográfico (que não consegue chegar aos pés do Sr. Grey). No entanto, acreditem ou não, acho que consegui ver mais piada na história deste. Ou pelo menos em alguns pontos da história.
A autora, desconhecida até então, apresenta-nos Alayna, uma empregada de um bar/discoteca mas que trabalha no bar porque gosta realmente do ambiente e do trabalho. Na realidade Alayna tem um MBA em gestão e várias ofertas de emprego assim que acabou o curso. Mas Alayna tem um passado complicado assente na perda dos pais, na falta de amor e na falta de atenção que originaram um comportamento obsessivo com relações. 
Do outro lado temos Hudson. Um jovem génio que dirige as empresas familiares. Também ele vindo de um passado onde prevalece uma família disfuncional que vive de aparências e um comportamento obsessivo, destrutivo e sociopata. A junção destes dois mundos não é fácil e a proposta de Hudson nada normal. Alayna e Hudson formam uma parceria onde ela finge ser sua namorada enquanto tenta desesperadamente não se apaixonar por ele e voltar aos seus comportamentos obsessivos.
É uma grande história? Não. Distrai? Sim. Vale por isso. No entanto chega a uma altura em que parece mais do mesmo já que todos estes livros se parecem basear nesse Sr. Grey.
Serviu pelo menos que me voltasse alguma da vontade de ler. Só por isso valeu a pena.


P.S – Descobri agora que existe continuação. O que significa que realmente é mais uma tentativa de cópia e de alcançar sucesso com os livros da moda.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Lago Perdido, de Sarah Addison Allen - Opinião

Lago Perdido, de Sarah Addison Allen

A primeira vez que Eby Pim viu Lago Perdido foi num postal. Apenas uma fotografia antiga e algumas palavras num pequeno quadrado de papel pesado, mas quando o viu soube que estava a olhar para o seu futuro.
Isso foi há metade de uma vida. Agora Lago Perdido está prestes a deslizar para o passado de Eby. O seu marido George faleceu há muito tempo. A maior parte da sua exigente família desapareceu. Tudo o que resta é uma velha estância de cabanas outrora encantadoras à beira do lago a sucumbirem ao calor e à humidade do Sul da Georgia, e um grupo de inadaptados fiéis atraídos para Lago Perdido ano após ano pelos seus próprios sonhos e desejos.
É bastante, mas não o suficiente para impedir Eby de abrir mão de Lago Perdido e vendê-lo a um empreiteiro. Este é por isso o seu último verão no lago… até que uma última oportunidade de reencontrar a família lhe bate à porta.

Sarah Addison Allen é uma das minhas autoras de eleição. Considero que os livros dela são doces. Aquela doçura que nos faz lembrar a infância, os amores, a magia… Lago Perdido foi-me oferecido nos meus anos pela minha irmã (de alma) que podem visitar aqui.
Lago Perdido soube-me a pouco. Para os livros anteriores de Sarah, Lago Perdido sabe a pouco. Não desilude, isso não. Mas sabe…. A um verão que terminou abruptamente, que não teve a magia a que fomos habituados.
A autora apresenta-nos Eby e George na sua lua-de-mel em Paris. Eby vem de uma longa linhagem de mulheres Morris que acham que a felicidade está nos maridos ricos e no dinheiro. E apesar de Eby conquistar um marido rico ela é uma pedra solta nessa linhagem. Durante o livro somos transportados por memórias de Eby. A lua-de-mel, a decisão de comprar o Lago Perdido, o voltar para casa.
O presente abre a sua história com Kate, sobrinha-neta de Eby, recentemente viúva e com uma filha a cargo. Devido ao desespero deixa-se controlar pela sogra durante um ano fazendo-lhe as vontades e deixando-a tomar conta da sua vida, e da sua filha. Mas um dia Kate acorda do seu “sonho”. E percebe que Devin, a filha, já não é a criança alegre que era. E que isso se deve ao controle da sogra.
A descoberta de um postal antigo de Eby leva-as a viajar até ao Lago Perdido em busca de algo, de um passado, de um presente, de um futuro… ou delas mesmas.
O lago perdido é uma estância de férias que nos seus tempos áureos vivia recheada de turistas. Agora Eby vê-se na impossibilidade de conseguir manter o lugar. Viúva, sem dinheiro suficiente e com pouco que a prenda ali, considera por fim vender o local. Ao saber disto duas personagens surgem na tentativa de viver o último verão naquela estância.
E são as personagens deste livro que o tornam tão rico. Selma e os seus 8 feitiços que conquistam homens. A mulher fatal condenada, por sua própria escolha, a roubar os maridos das outras. Bulahdeen, a velha professora de literatura que não volta a ler os livros que leu porque os finais mudam. Jack, o dentista que não consegue interagir com pessoas e prefere o silêncio. Wes… o companheiro de aventuras de Kate naquele verão há muitos anos que passou no Lago Perdido.
Lisette… confesso que Lisette é a minha personagem preferida. A muda rapariga francesa a quem Eby salva a vida e que passa a vida “agarrada” a um passado e a uma cadeira.
As personagens são ricas. São fáceis de se gostar delas. O que já é normal na autora. A história tem a magia a que estamos acostumados. Como o postal que aparece como por magia, o aligator que parece indicar o caminho e que só Devin vê, a cadeira de Lisette…
Penso que o ponto fulcral da história, para mim, é a ideia que os fins podem ser mudados. Que nenhuma história é linear, igual. Que o fim pode ser trabalhado, pode mudar, consoante o caminho que se escolha.
E é isso que as várias personagens têm de fazer: escolhas. Escolhas que mudem o seu final, que mudem o seu caminho… que mudem a sua vida para aquilo que realmente querem.
Não é um dos melhores da autora. Mas não desilude. Lê-se bem e encanta. Mantêm-nos presos à sua magia e à sua história. Para mim o único defeito é ter um fim demasiado abrupto, demasiado rápido e com poucas explicações.

Um bom livro para as férias da páscoa… para aqueles que as têm…