sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Merlim, de Michel Rio - Opinião

Merlim, de Michel Rio

“Tenho cem anos. Um século é uma eternidade para se viver, um pensamento fugidio em que tudo, os começos, a consciência, a invenção e o fracasso, se mistura numa experiência sem tempo. Trago em mim o luto de um mundo e de todos aqueles que o povoaram. Sou o único sobrevivente desse mundo. Até Deus está a morrer e Satã não está melhor…
…Tenho cem anos. Sou no sonho de Morgana e habito, solitário, um planeta errante que em vão se aquece nos raios de um centro sem vida e sem motivo.
E Morgana é no meu sonho…”

Merlim é o primeiro livro de uma trilogia assinada por Michel Rio. Os volumes seguintes são Morgana e Artur.
Como o nome indica é mais uma visita ao reino de Camelot e à vida destas personagens intemporais.
Em Merlim conhecemos mais um pouco a vida do mago que povoa a imaginação de tantos. Mas na realidade, a magia deste livro existe apenas numa mente inteligente e superior que percebe as rodas que mexem o mundo.
Criado para ser rei, Merlim é educado para ser guerreiro e líder. Mas cedo a sua inteligência e perspicácia deixam antever um estratega e um sábio. Cedendo a coroa a Uter, Merlim passa a conselheiro do rei e cria o que será Camelot e a távola redonda. Após o casamento de Uter leva o filho deste, Artur, para ser criado longe dos laços familiares e para que obtenha uma educação como a de dele próprio: de guerreiro e rei.
É Merlim que, também, toma para si a educação de Morgana, meia-irmã de Artur, que o surpreende com uma mente tão parecida com a sua.
É estranho para alguém que lê apaixonadamente as Brumas de Avalon, ler um Merlim que fala em Deus e Satã. Que fala de religiões antigas sem lhe pertencer e que não possui magia alguma. A Avalon de Michel Rio é apenas uma ilha esquecida no tempo e no espaço que servirá de prisão a Morgana. Não existem sacerdotisas nem Excalibur.
Não era a leitura que estava à espera, confesso. No entanto, não deixa de ser uma leitura interessante. É a visão do mundo de um homem sábio que sabe como mexe o mundo, como o fazer rodar e que a vida não é linear.

Os próximos títulos da trilogia estão já em lista de espera.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Os Jogos da Fome, de Suzanne Collins - Opinião



Os Jogos da Fome, de Suzanne Collins
Os Jogos da Fome - Livro I

Num futuro pós-apocalíptico, surge das cinzas do que foi a América do Norte Panem, uma nova nação governada por um regime totalitário que a partir da megalópole, Capitol, governa os doze Distritos com mão de ferro. Todos os Distritos estão obrigados a enviar anualmente dois adolescentes para participar nos Jogos da Fome - um espectáculo sangrento de combates mortais cujo lema é «matar ou morrer». No final, apenas um destes jovens escapará com vida… Katniss Everdeen é uma adolescente de dezasseis anos que se oferece para substituir a irmã mais nova nos Jogos, um acto de extrema coragem… Conseguirá Katniss conservar a sua vida e a sua humanidade? Um enredo surpreendente e personagens inesquecíveis elevam este romance de estreia da trilogia Os Jogos da Fome às mais altas esferas da ficção científica.

Quando a colecção Os Jogos da Fome saiu no mercado português deixou-me bastante de pé atrás. Na mesma altura éramos bombardeados com novas edições de vampiros, zombies, e toda uma panóplia de romances sobrenaturais que achei, sinceramente, que Os Jogos da Fome era mais do mesmo.
Foi por isso natural que deixasse assentar a poeira do entusiasmo, enaltecida ainda mais pela versão cinematográfica, para que finalmente me pudesse dedicar ao livro.
O resultado? Todas as minhas ideias pré-feitas foram por água abaixo.
Os Jogos da Fome é um livro muito interessante, seja pela história, pelas personagens ou pelas ideias transmitidas.
Vejamos…
A autora apresenta-nos uma futura América do Norte pós apocalíptica. Após guerras e massacres surge uma nova nação governada pelo Capitólio. A nação é dividida em 12 distritos e cada distrito é único, seja pelas suas características, seja pelo trabalho a que se dedica. Os distritos não interagem entre eles criando uma ideia de isolamento que, ao mesmo tempo, impede a ideia de revolta. Muita coisa é proibida e os castigos cruéis. A lei é implementada a braço de ferro e através do terror. Terror esse que alcança o expoente máximo com os Jogos da Fome, um combate anual onde 24 adolescentes terão de matar para sobreviver.
Katniss vive com a mãe e a irmã num desses distritos. O seu distrito dedica-se ao trabalho nas minas, local onde perdeu o pai. Katniss sabe que para sobreviverem tem de contornar algumas regras, como por exemplo entrar no bosque para caçar e vender a carne no mercado negro. Quando a irmã mais nova de Katniss é escolhida como representante do distrito para os jogos desse ano, Katniss tem de se valer das suas armas e da sua experiência de caça para substituir a irmã (oferecendo-se como voluntária) e tentar voltar a casa viva.
Todo o livro se centra em volta dos jogos. Da maneira como são feitos, da maneira como são transmitidos para todos os 12 distritos (os habitantes são obrigados a ver as transmissões televisivas). Acima de tudo o livro conta a maneira como os mais poderosos e com dinheiro conseguem-se valer do seu dinheiro e com ele usar vidas humanas que se digladiam numa arena.
E isso é o mais importante. Não é o possível romance ou a maneira inteligente como Katniss vai conseguindo sobreviver nos jogos. O mais importante que é transmitido ao leitor é a ideia de uma nação poderosa que faz dos seus habitantes meros peões num jogo de xadrez. Várias vezes ao longo do livro, através das conversas de Katniss e Peeta, vemos o ponto de vista das personagens. Peeta refere o não se importar de morrer mas o querer fazer a diferença. Fazer ver aos poderosos que não é um mero peão. Sim, podem ficar com a sua vida, e vangloriar-se disso, mas ele tentará mostrar a quem o vê na televisão que podem ser mais que isso, mais que peões.
Acima de tudo Os Jogos da Fome conseguem ser uma lição. Fez-me lembrar muito 1984, de George Orwell e o seu Big Brother. A constante pressão para aceitar as ideias do poder, a perseguição de quem não o faz. Penso, sem dúvida, que após esta trilogia o livro 1984 pode ser muito melhor percebido para estes novos leitores que apenas olhavam para ele como uma leitura massiva e chata.
Os Jogos da Fome não é um livro sobre romances sobrenaturais. É um livro sobre luta pela vida e pelos ideais, pela mudança sem conformismos. De uma maneira simples mas bastante eficaz para chegar aos mais novos.
Se recomendo? Sem dúvida!

sábado, 9 de novembro de 2013

Matias da Maia, de Adriano Milho Cordeiro - Opinião

Matias da Maia, de Adriano Milho Cordeiro
Um Jesuíta Português, natural da Atalaia, na China do Século XVII e a Construção de entrelaços culturais na vastidão do Império
Edição da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha

Na obra de Matias da Maia sentimos a sapiência intensa e admirável de um singular teólogo e filólogo, a investigação cadente do seu pensamento, a causa de certos acontecimentos ocorridos em eras para nós já longínquas, onde, ondas de destruição e de reconstrução foram traçando os percursos nas ondas da Navegação do devir histórico e das relações entre civilizações ancestrais.”


Este livro foi-me oferecido pelo próprio autor, um amigo de outras paragens. É uma edição de Junho de 2013 editada pela Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha. Não é um romance, mas simplesmente os factos verídicos de uma época de descobrimentos, de novos contactos com outras culturas.
É sabido que durante o século XVII, e não só, foram vários os religiosos que aportaram nas novas terras, a ocidente e a oriente, na tentativa de converter, além de compreender, os novos povos. Neste livro, uma espécie de tese, são referidos vários documentos da altura com cartas ânuas da China onde descobrimos não apenas as ideias da altura, mas todos os acontecimentos, como por exemplo, a passagem das várias dinastias no oriente.
Não é por isso um romance, como referi. São textos históricos que documentam uma época e que não deixam de ser interessantes porque com eles aprendemos sempre mais.
Um livro muito fácil de ler, rápido. E que me soube a pouco…
No final, o autor apresenta-nos cópia de um documento intitulado “Relação da Conversão a nossa SanctaFè da Rainha, &Principe da China, & de outras pessoas da casa Real, que se baptizarão o anno de 1648”. Documento este que está na base da pesquisa de todo este livro: o ter encontrado um padre jesuíta natural da freguesia da Atalaia, concelho de Vila Nova da Barquinha, e que escreveu esta “Relação”. Uma visão sem dúvida interessante e que enriquece sempre a cultura de quem o lê.

Deixo-vos um trecho que gostei bastante:

“Talvez tenhamos de ser de novo cultores de palavras e de poesia num mundo demasiado mercantilizado. Deixemos para trás os “priapescos” deuses do “vil metal” a fim de alcançarmos a mística que a literatura nos oferece – fonte para nos conhecermos melhor – que possibilita um melhor entendimento sobre as alteridades de um mundo globalizado e ainda pleno de biodiversidades étnicas e socioculturais, onde urge efectivar pontes de palavras… actos e trabalho!


Percorramos de novo Mares e Oceanos… e celebremos com Palavras a grande aventura da vida. Ainda que perpetuamente o Caos espreite em redor, o remanescente avirá em harmonia.”

domingo, 27 de outubro de 2013

As Cinquenta Sombras Mais Negras, de E. L. James - Opinião

As Cinquenta Sombras Mais Negras, de E. L. James´

Perseguida pelos negros segredos que atormentam Christian Grey, Anastasia Steele separa-se dele, e começa uma carreira numa prestigiada editora de Seattle.
Mas por mais que tente, Anastasia não o consegue esquecer - ele continua a dominar-lhe todos os pensamentos. E quando Christian lhe propõe reatarem a relação com um novo e diferente acordo, ela não consegue resistir. Aos poucos, uma a uma, começam a revelar-se as Cinquenta Sombras que torturam o seu autoritário e dominador amante.
Enquanto Grey se debate com os seus demónios, e revela a Anastasia um lado inesperadamente romântico, ela vê-se obrigada a tomar a mais importante decisão da sua vida.
Uma escolha que só ela pode fazer…

Após a leitura do primeiro livro desta série (ver aqui a opinião) não resisti a continuar e ver no que ia dar esta história tão badalada.
No segundo livro E. L. James traz-nos uma Anastasia consumida pela dor após deixar Christian. Com o seu novo emprego a ocupar-lhe os dias o mesmo não consegue ocupar-lhe os pensamentos. E Christian habita o seu pensamento a todas as horas.
Após o “embate” do primeiro livro, as descrições sexuais, a linguagem, etc… este segundo volume torna-se mais “meloso”. Chega até a ser enjoativo. Quase tudo é idílico. Anastasia rapidamente reata com Christian e ele compromete-se a tentar uma vida amorosa mais.. “baunilha”. O livro transmite amor atrás de amor. Aliás, a palavra amor é tantas vezes repetida nas falas das personagens que chega a enjoar.
Claro que nem tudo são rosas. Aparece uma ex submissa de Christian e sem boas intenções. E mesmo Mrs. Robinson resolve voltar a dar cartas numa tentativa de reaproximação com Grey.
A verdade é que tudo parece acontecer neste livro. À volta de várias personagens, acidentes, roubos, ataques, amor… muito amor. Um livro recheado de emoções.
Se vale a pena continuar? Confesso que o que me guia é mesmo a curiosidade e não a qualidade. Sempre ouvi dizer que a curiosidade matou o gato… acho que o meu problema é esse. A qualidade, como sempre, deixa muitas dúvidas. Continuam a apanhar-se alguns erros ortográficos. Com o sucesso que a série tem mais valia fazerem uma nova revisão. Mas a curiosidade… esse bichinho que nos dá a volta e nos faz querer saber sempre mais.
Este segundo livro acabou por me “prender” mais que o primeiro. Apesar de enjoativo, com tanto amor, consegue ser mais interessante já que não vive apenas do sexo. Aos poucos vamos descobrindo mais da personalidade de Christian e quais os problemas e acontecimentos que o levaram à postura actual. A autora conseguiu, novamente, após um livro morno deixar um final que aguça a curiosidade.

Daí que, em breve, teremos por aqui a opinião do último livro da série.  

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Hex Hall, de Rachel Hawkins - Opinião

Hex Hall, de Rachel Hawkins

Um bilhete só de ida para um colégio interno perdido nos pântanos do Louisiana era talvez a última coisa que Sophie Mercer esperava receber pelos seus dezasseis anos. Mas Sophie não é uma adolescente igual às outras. Sophie é uma feiticeira e, tal como os outros prodigium, feiticeiros, fadas, lobisomens e vampiros, Sophie não pode frequentar uma escola normal. O que Sophie esperava ainda menos era ser companheira de quarto de Jenna, a única vampira da escola, e ver-se enredada numa trama para descobrir quem anda a assassinar os alunos da escola ao mesmo tempo que tem que lidar com os seus novos poderes, a descoberta da importância do seu Pai na hierarquia dos feiticeiros e a sua paixão pelo namorado da sua mais recente inimiga.

Tinha alguma curiosidade sobre este livro. Uma das coisas que me chamava a atenção era a capa. Infelizmente as novas edições mudaram de capa. A inicial era muito mais original e demonstrava a dualidade presente na história do livro (a capa inicial ilustra esta opinião).
Sophie é-nos apresentada de uma forma bastante interessante ao tentar protagonizar um feitiço de amor que não tem os resultados esperados. Aos poucos somos apresentados à história de uma rapariga que afinal é bruxa mas que deu demasiado nas vistas e por isso é mandada para a escola de Hecate Hall, o lugar para onde os seres prodigiosos que fazem asneira no mundo real são enviados de maneira a aprenderem a ser mais discretos.
Aqui o livro adquire os contornos claramente adolescentes dos livros da moda. O tema não foge a isso: uma escola de seres mutáveis, prodigiosos e cheios de poder.
A autora vai-nos apresentando as várias personagens, as histórias por trás de Hecate Hall, conhecido como Hex Hall, os campos, toda a história que envolve estes seres diferentes. A história dos membros do L’Occhio di Dio faz-nos lembrar sociedades secretas dos Illuminati.
Mas para Sophie nem tudo é um mar de rosas. Colegas começam a aparecer desfalecidas, sem gota de sangue no corpo, e Jenna, a sua única amiga, e vampira, é acusada dos acontecimentos. A verdade, contudo, é que algo muito mais poderoso e impensável assombra os campos de Hex Hall e com ele traz a verdadeira história da família de Sophie.
Uma história leve e fácil de ler já que é dirigida, maioritariamente, a adolescentes. Não acrescenta nada de novo mas consegue ser interessante e, em algumas partes, agarrar o leitor à história.

O meu pormenor favorito? Tornar Lord Byron professor na escola, mantendo a sua fama de vampiro, claro.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Encomendação das Almas, de João Aguiar - Opinião

A Encomendação das Almas, de João Aguiar

Num mundo rural em decomposição acelerada, minado pela poluição física e mental, pelos media e pelas arremetidas da "Aldeia Global", um homem de setenta anos e um adolescente aliam-se para construir um pequeno universo privado, fantástico, parado no tempo, onde vivem os velhos ritos e as superstições do passado.
Porém, esse universo, frágil e vulnerável, não poderá resistir durante muito tempo à sociedade hostil que o cerca. Então, é preciso encontrar uma saída...

História de uma amizade e de uma revolta, A Encomendação das Almas é também um retrato-caricatura do nosso tempo. Com ele, João Aguiar abre uma nova frente no seu trabalho de romancista e, renovando-se, confirma que é hoje um dos mais versáteis narradores portugueses.

Sempre gostei da escrita de João Aguiar. Gosto da maneira como ele transforma mitos e histórias em algo muito presente em nós. É um grande contador de histórias e é sem dúvida um autor a quem sabe sempre bem voltar.
Devido a outras actividades “extra-curriculares” necessitei de ler este livro que ainda não conhecia. Sempre ouvira falar da Encomendação das Almas mas, sinceramente, nunca me tinha debruçado sobre o livro e a sua temática. Foi uma surpresa.
A história é contada de uma maneira que considerei bastante “doce”. É-nos apresentado D. Gonçalo Nuno, um homem de idade, rico, dono de empresas, casas e parente afastado de uns condes. Nem o dinheiro de D. Gonçalo o “safou” das ideias da família: interná-lo num “asilo para velhos”.
Farto da vida que levava, dos afectos comprados com dinheiro e da indiferença da amantíssima esposa, D. Gonçalo decide partir de casa e refugiar-se na velha casa de família em Poiais da Santa Cruz.
É nesta pequena aldeia que conhecemos a segunda personagem, Zé da Pinta. O rapaz, quase sempre chamado de “o apoucadinho”, é considerado um pouco parvo, lento das ideias… idiota. No entanto, é uma personagem fascinante. Pouco fala mas, segundo o autor, os seus olhos dizem muito. São capazes de calar uma multidão.
Zé da Pinta foi recambiado pelos pais para casa de um tio em Poiais de Santa Cruz, por estes já não saberem o que fazer com o rapaz. O tio aceitou de bom grado a ajuda que Zé da Pinta podia dar na taberna e na mercearia e levou-o para casa. Os dias do rapaz eram passados entre a taberna, a mercearia, a cama da tia e as vezes que fugia para o campo para olhar o céu. Tinha um grande fascínio pelo céu, principalmente por tempestades.
É nesta aldeia isolada do mundo que as duas personagens se conhecem. D. Gonçalo fugido dos filhos, Zé da Pinta numa busca incessante de algo que nem ele próprio sabe. A diferença de idades, de estatuto social e de famílias não é importante nesta relação. Apenas as ideias, as dúvidas, a aceitação de um pelo outro.
E aos poucos vão entrando num mundo só dos dois. Um mundo onde existem mouras encantadas, lobisomens e almas que precisam de ser encaminhadas para o além. Com isso esquecem o mundo lá fora, as brigas familiares, o dinheiro, as injustiças. Mas o mundo lá fora não os quer esquecer. Os filhos de D. Gonçalo querem o que é deles por direito, ou o que assim acham. O tio de Zé da Pinta pondera mandar o rapaz para os pais depois de o mesmo dar nas vistas na aldeia. É necessário que a amizade destes dois “fugitivos do mundo” seja forte o suficiente para ultrapassar todos os problemas. E a resposta pode estar na biblioteca de D. Gonçalo. No livro que explica como nascem os Seculares das Nuvens.
Tal como referi acho a maneira como esta história é descrita muito doce. As ideias de Zé da Pinta fazem-no um sonhador. O crescente interesse de D. Gonçalo pelos mitos e pelo rapaz demonstram alguém que pode estar pela primeira vez a estabelecer uma relação de carinho com alguém. São duas pessoas que fugiram da aldeia global, dos shoppings e hipermercados. E que são perseguidos por eles e que encontram na sua amizade a única maneira de sobreviverem íntegros às suas ideias.
O fim não era o que esperava, confesso. Mas mesmo sendo algo impensável consegue mesmo assim ser doce, já que o mesmo representa a libertação das personagens e termina como um conto de fadas cheio de possibilidades e sonhos.

Recomendo o livro a quem gosta do autor, a quem não o conhece ou a todos os que se sintam curiosos com o título. Um livro a manter debaixo da “asa”.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Amor e Guloseimas, de Kate Jacobs - Opinião



Amor e Guloseimas, de Kate Jacobs

Prestes a completar cinquenta anos, Augusta "Gus" Simpson, a popular apresentadora de Cozinhar com Gusto!, dá consigo a planear um aniversário que preferiria ignorar - o seu. Está a ficar cansada de ser a anfitriã perfeita, a mãe-galinha, a mulher que é sempre o porto de abrigo para todos os que a rodeiam. Para piorar as coisas, a sua carreira corre perigo - o canal de televisão quer aumentar as audiências do programa e para isso vai buscar a bela e ambiciosa Carmen Vega, ex-Miss Espanha, que depressa se transformará na nova menina bonita da culinária.
Mas Gus não vai desistir sem dar luta - e a temperatura vai subir, no estúdio e fora dele. Porque ela percebe que poderá não só rejuvenescer a sua carreira como melhorar a sua vida familiar - e talvez mesmo a sua vida amorosa.

Um romance (doce como uma guloseima) em que se misturam os sabores da infância com os desafios de começar de novo aos cinquenta.

Este era um livro sobre o qual eu tinha alguma curiosidade. Não tanto pela sinopse, confesso, mas sim pelo título. Curiosidades destas às vezes trazem surpresas desagradáveis. Mas desta vez não foi esse o caso.
As primeiras páginas do livro podem ser um pouco desmotivantes. É-nos apresentada Gus e a sua “angústia” por ir fazer 50 anos, a festa que não quer planear. Logo ela que adora planear festas.
Gus é apresentadora de um programa de culinária muito conhecido. Viúva, mãe de duas filhas, vive sozinha com o Sal e a Pimenta, os seus gatos, numa enorme casa que gosta de encher de amigos em festas. Aliás, o programa é inteiramente filmado na sua cozinha.
No entanto, aos 50 anos, Gus vê a sua brilhante carreira tremida. As audiências estão a baixar, o canal de televisão procura algo novo e mais dinâmico que chegue aos públicos de todas as idades. Para piorar tem o trabalho de mãe nada facilitado. Sabrina está noiva… novamente, e Aimee continua a afastar todos da sua vida.
É neste quadro que aparece Carmen, ex-Miss Espanha, estrela de culinária de um programa de internet, e Oliver, cozinheiro por amor, homem de ideias fixas e de diversas paixões.
Um forte nevão deita por terra o episódio piloto do novo programa o que faz com que todas estas personagens entrem em cena para salvar Gus. Mas todos têm as suas próprias ideias.
Gus quer continuar a sua vida nos mesmos moldes, salvar o seu programa, continuar a cozinhar e orientar as filhas na vida. Carmen quer subir na vida a qualquer custo, ser conhecida, ser famosa, dar aos pais, que ficaram em Sevilha, o orgulho de ter uma filha famosa. Sabrina quer casar, quer descobrir o que quer visto que nem ela própria o sabe. Aimee quer esconder-se, refugiar-se no trabalho, esquecer a vida lá fora e principalmente esquecer que a mãe é famosa. Oliver quer mudar de vida, fazer algo por amor, e ao longo da história vai querer mais alguém…
A eles juntam-se Troy, ex-namorado de Sabrina, que tenta fazer publicidade à sua nova empresa enquanto tenta recuperar a ex-namorada, e Hannah, a ex-famosa estrela do ténis que se refugia do mundo, encontrando em Gus um porto de abrigo.
Todas estas personagens são ingredientes de um livro extremamente doce. Juntamos as personagens, mexemos em lume brando, outras vezes em discussões. Adicionamos amor, amizade, tristeza e sonhos, muitos sonhos. Acrescentamos gargalhadas e diversão. No fim ficamos um romance delicioso. Simples e nada pretensioso. Um romance que é verdadeiramente definido pela palavra “doce”.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A Villa, de Nora Roberts - Opinião



A Villa, de Nora Roberts

Sophia é a herdeira do negócio de vinhos da próspera família Giambelli. Sob ordens da sua avó, ela tem de aprender todas as etapas da produção de vinho. O seu tutor, Tyler MacMillan, é um jovem atraente com uma grande paixão pelas vinhas, mas apenas desprezo pelo mundo de negócios. À partida, esta promete ser uma parceria difícil, mas quando a reputação dos vinhos Giambelli começa a ser misteriosamente atacada, a difícil relação transforma-se num inesperado romance. Infelizmente alguém ambiciona destruir mais do que o negócio de vinhos. Mas só quando o pai de Sophia é morto e os membros da família se tornam suspeitos, é que a verdadeira dimensão da ameaça é revelada. Será que a própria família Giambelli está em risco? E o que pode um frágil amor perante tamanha teia de manipulação?


É sempre bom voltar a Nora Roberts. Principalmente no verão, quando a cabeça precisa de arejar, de ideias leves, de pensar pouco e sonhar muito.
Este livro começa com uma morte que desde logo nos prende. Terá sido a morte do velho Signore Baptista uma mera coincidência, uma movida de uma peça de xadrez ou o desenrolar de uma longa história? De tudo um pouco, na verdade.
Aos poucos conhecemos a história da família Giambelli. As suas várias gerações, o seu papel na empresa familiar, a relação de cada um com La Signora (que nos parece quase saída de uma história da máfia) e com cada um entre si.
O vinho corre por cada página deste livro. Por cada história. Envolve-nos com o seu cheiro e o seu sabor à medida que vamos conhecendo os personagens, as suas motivações. À medida que as gotas do vinho se misturam com o sangue dos que ficam pelo caminho.
Uma grande fortuna traz invejas. Uma família unida traz invejas. E pelos vistos a Giambelli causa invejas. Invejas capazes de mandar matar alguém, de mandar prejudicar outros.
A história está bem construída. É interessante, cativante, bastante leve, apesar do enredo não o parecer, e torna-se, até divertida. Sophia é uma personagem interessante e Ty consegue ser hilariante. A mistura dos dois, então, essa consegue arrancar-nos gargalhadas.
É sobretudo um livro sobre os laços familiares, sobre a amizade em família e a importância que a mesma pode ter nas nossas vidas.
Tal como disse no início, é um livro ideal para o verão, para espairecer e refrescar a mente. Quem sabe acompanhado de um copo de vinho?