quarta-feira, 25 de abril de 2012

A Caixa Em Forma de Coração - Opinião


A Caixa Em Forma de Coração, de Joe Hill

Judas Coyne colecciona o macabro: um livro de receitas para canibais… uma corda usada num enforcamento… um filme snuff. Uma lenda do death metal de meia-idade, o seu gosto pelo bizarro é tão conhecido entre a sua legião de fãs como os excessos da sua juventude. Mas nada do que ele possui é tão inverosímil ou tão medonho como a sua última descoberta…
Um artigo à venda na Internet, uma coisa tão estranha que Jude não consegue resistir a pegar na carteira. "Vendo" o fantasma do meu padrasto a quem fizer a licitação mais alta. Por mil dólares, Jude tornar-se-á o orgulhoso dono do fato de um homem morto que se diz estar assombrado por um espírito inquieto. Ele não tem medo. Passara a vida a lidar com fantasmas - o fantasma de um pai violento, o fantasma das amantes que abandonara sem compaixão, o fantasma dos companheiros de banda que traíra. Que importância teria mais um? Mas o que a transportadora entrega à sua porta numa caixa preta em forma de coração não é um fantasma imaginário ou metafórico, não é um benigno motivo de conversa. É real.

Já há algum tempo que tinha bastante curiosidade sobre este livro. Não costumo ler livros de terror (ou os que leio não os considero como tal) sendo por isso a minha estreia. Estreia também com o autor.
Assim, foi com muitas esperanças que peguei no livro. Confesso que no início foi-me difícil agarrá-lo. A história não me estava a contagiar. E por isso demorou mais tempo a ler.
Mas a dada altura o livro dá-nos a volta. E a partir daí já não conseguimos parar.
Jude é uma personagem bastante interessante. Não pelo seu estatuto de estrela mas pelo seu passado, pelas curvas da vida, pelas suas opções.
E se o livro pretende ser um livro de terror penso que falha um pouco. É sim um livro sobre a natureza humana e como as pessoas reagem às adversidades da vida, aos pequenos e grandes percalços que nos fazem repensar toda a existência.
Jude teve uma infância difícil. E a música, a banda e as mulheres foram o seu escape. Nunca se interessou pelo passado das mulheres que lhe passaram pelas mãos. Nunca as quis perceber ou compreender. Não as considerava objectos mas também não as considerava parte importante da sua vida. Daí que não as chamasse pelo nome e sim pelo estado de onde provinham.
Perseguido pelo fantasma, Jude tem de repensar toda a sua vida. Analisá-la, percebê-la, dar importância às pessoas que se cruzaram com ele. Perceber o verdadeiro significado de actos que na altura pareciam não ter importância.
E é graças ao fantasma, à fuga, que Jude percorre a estrada da noite. Confesso que gostei bastante da ideia da estrada da noite. Gostei do caminho percorrido, do verdadeiro significado da estrada.
Posso dizer que apreciei bastante a leitura. Foi uma boa experiência. Uma viagem à escuridão do ser humano. Que me relembra que não se deve ter medo dos mortos e sim dos vivos.
Aconselho vivamente a leitura. E não se preocupem pois não é um livro capaz de vos fazer medo, esconder debaixo dos lençóis na cama ou olhar duas vezes para o corredor escuro. É apenas um livro que vos fará pensar.

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