terça-feira, 1 de maio de 2012

Cristina Rivera Garza pela Bertrand


Ninguém me há-de ver chorar, de Cristina Rivera Garza

«Estamos perante uma das obras de ficção mais notáveis da literatura, não apenas mexicana, mas em língua castelhana deste virar de século.» Carlos Fuentes

Partindo de factos reais, Cristina Rivera Garza constrói uma novela inspiradora, numa viagem aos limites do desejo e da loucura.
Estamos no ano de 1920 e Joaquín Buitrago, cuja atormentada vida o levou a tornar-se fotógrafo de pacientes do manicómio mexicano La Castañeda, encontra entre as mulheres que retrata Matilda Burgos. Obcecado com a identidade desta doente, uma vez que está convencido de que a conheceu anos antes no célebre bordel La Modernidad, trata de reunir informações sobre ela. Tal como Joaquín vai descobrindo a pouco e pouco, Matilda, que nasceu nos campos onde se cultivava a perfumada baunilha, chegou de pequena à capital para cair nas mãos de um familiar que a usou para pôr em prática uma singular teoria médico-social. A maré de recordações, a partir da qual vai surgindo a turbulenta existência de Matilda, provoca também no fotógrafo uma reflexão acerca da sua própria vida e da sua dependência dos narcóticos.

«Joaquín já não se pergunta o que procura em Matilda Burgos. Agora a única coisa que lhe interessa saber com certeza é o que encontrou nela. As suas escassas horas de sono são leves, gastas rapidamente, como se temesse estar a perder o tempo. Há presteza nos movimentos do seu corpo, reflexos. Mal acorda, Joaquín estica o braço para baixo do seu catre para pegar no caderno de grossas capas negras onde noite após noite transcreve algumas sombras da vida de Matilda. A sua afeção mental. A sua condição. São apontamentos escritos a toda a velocidade. Gatafunhos sem pontuação, frases entrecortadas e fragmentos organizados sem método algum que só ele será capaz de entender depois. Taquigrafia sentimental. As notas devolvem-lhe a vida de manhã, certo sobressalto que julgava totalmente perdido. Em 1908, quando Joaquín fotografou Matilda pela primeira vez, nunca imaginou que algum dia a voltaria a ver; nunca imaginou que a vida de Matilda chegaria a ser a chave da sua própria vida. (…) «O que nos aconteceu, Matilda?» O manicómio está saturado de gritos e nenhum deles é a resposta desejada.» (página 101)

Sem comentários:

Enviar um comentário