segunda-feira, 9 de julho de 2012

Aproveitem a vida - Opinião


Aproveitem a vida, de António Feio

“Tenho um tumor gigante no pâncreas. Alguns dos tratamentos conseguiram reduzir um pouco o seu tamanho, mas não o suficiente para poder ser operado. Sei bem o que isso significa.
Neste momento, e porque não há outra forma, vivo um dia de cada vez. Deixei de fazer planos para a frente. Não sei o que me espera no futuro, mas isso agora também não importa, o que interessa é o aqui e agora.
Ao longo deste quase último ano e meio percebi que o meu estado de saúde deixou de ser um tema que me diz respeito apenas a mim, à minha família, aos meus amigos e àqueles de quem sou próximo.
A minha doença deixou de ser apenas um problema que é meu, de alguma forma deixou de me pertencer. E isto sucedeu aos poucos, à medida que a onda de apoio e solidariedade à minha volta foi crescendo e ganhando forma. Assim nasceu a ideia deste livro.
A mensagem principal que quero deixar às pessoas é que se há um problema é preciso resolvê-lo da melhor maneira, há que não ficar quieto, há que tentar de tudo primeiro, nunca desistir.
Se as pessoas começarem a parar por um momento para olhar para casos como o meu, ou, simplesmente, para a sua própria vida com olhos de ver, talvez comecem a relativizar os seus próprios problemas e possam perceber o que de facto vale a pena na vida. Talvez assim a consigam aproveitar melhor.
Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros!!”

Este livro surge nas minhas mãos através de um ring do Bookcrossing. Tinha bastante curiosidade em ler já que tinha acompanhado a luta do António. Foi uma luta que, confesso, nos tocou muito. Mais ao menos ao mesmo tempo a minha mãe acabava a quimioterapia. E ele tornou-se num modelo para ela pela forma como encarava a doença.
Foi bom poder ler as suas palavras. Ao ler o livro sentimos no ar as suas gargalhadas. Tive oportunidade de ver algumas das suas peças e sempre fui admiradora do seu trabalho. É diferente ler a sua vida contada por si próprio, sempre com um laivo de risos no ar, do que por uma qualquer revista cor-de-rosa.
E neste livro encontram-se verdadeiras pérolas. Tanto acabamos a frase com uma lágrima no olho como a acabamos com uma grande gargalhada.
Não é um livro como os outros. É o livro de uma vida. Uma despedida quase… mas sabe bem ler e fazer parte dessa despedida. Saber que ele viveu o máximo que pôde, que não sobreviveu apenas. Que lutou até ao fim, que soube rir da doença e contornar as dificuldades. Tal como diz o Dr. Nuno Gil no posfácio, este saber encarar a doença ajuda nos tratamentos e na própria evolução da mesma. Confirmo que é verdade. Tenho um exemplo desses em casa.
E no fim do livro, como bónus, uma série de textos retirados do “mini-mini” diário do António. Ri-me imenso. E é esse objectivos. Acabar o livro a rir.
Só não entendo quem colocou este livro na colecção “Auto-Ajuda”.

4 comentários:

  1. Viver em vez de sobreviver é, cada vez mais, um luxo a que muitos portugueses não têm acesso.
    Mas gosto da mensagem, obviamente.
    Não li o livro, mas seduz-me o optimismo que descreves.
    Obrigada e beijinho

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    1. Penso que aqui o viver em vez de sobreviver refere-se a um caso de uma doença... a partir do momento em que é dada a notícia de uma doença a pessoa tem duas opções: ou desiste e sobrevive apenas o tempo que lhe resta, de maneira condicionada; ou vive, rebela-se e luta pela vida. Conheço alguém a quem há cerca de 2 anos os médicos disseram que poderia ter apenas um ano de vida. Mas ainda está vivo. Sabes o que ele diz? Que não se importa da data de validade. Porque passado o ano dos médicos tudo agora é lucro :)

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  2. Bem ... li este livro quando a minha avó morreu. Vitima de cancro, no mesmo dia que o António Feio. Lembro-me de ela olhar para a televisão e dizer "este senhor está mesmo doente, não dura muito coitado" e ela em três meses ficou igual a ele sem que nada o fizesse adivinhar!
    É um livro tocante ... até compreendo a parte de auto ajuda, pelo menos a mim ajudou muito ... e gastei lenços até mais não!

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    1. Joana, para além de divertido e de um óptimo conhecimento da vida do actor, este livro ajuda também aqueles que passaram pelo cancro ou que tiveram familiares com a doença. Da mesma maneira que te ajudou a ti, ajudou-me a mim, à minha mãe que, felizmente, sobreviveu, e a todos os que se sintam tocados pelas suas palavras. Porque essencialmente o livro é um hino à vida.
      Beijokas

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